TCHAU, AMOR...
Ela para em frente à farmácia. Ar aflito ao celular:
_Amor, tô aqui na esquina da Droga Nova. Cê tá de moto? Passa aqui na rua. Só pra eu te ver um pouquinho...
Para um instante, cara de desalento.
_ Ah, tá em horário de trabalho? Que pena... Puxa, era só um tchauzinho. Nem precisava parar...
Alguma coisa muda lá do outro lado. Ela se ilumina de repente e grita:
_Tá vindo? Ah, que bom! Tô te esperando, sei... Não vai parar. Tá, só um tchau...
Minutos depois ele passa. Está de moto e capacete. Não para, só diminui. Levanta a mão e acena. Ela quase tem um treco de emoção. Acena também, manda um beijo com a ponta dos dedos. Não dura um segundo, o romântico colóquio gestual. Ele segue, se perde no meio do trânsito. Ela fica meio boba olhando a moto desaparecer. Depois sai toda feliz. Completamente aérea, tropeça nos próprios pés. Vai pra casa, certamente curtir a alegria de tê-lo visto. Ganhou o dia. Ganhou um tchau!
Um tchau! Tudo por um caloroso, maravilhoso, delicioso “tchau”. Esse é o amor. Lindo, irresistível, mágico. Um aceno vale o mundo. Ele passa voando numa moto, levanta a mão. Ela vai ao delírio. Viu o amor de sua vida. Aquele que povoa seu sono, ocupa seus pensamentos, toma conta do seu tempo, reina no seu mundo.
Sintomas de amor... Ah, o amor! Transforma. Revoluciona. Eros enlouquecido virando tudo pelo avesso. Roupa nova, sapato, perfume, espelho. Olhar perdido. Pensamento longe. Prender, atrair, conquistar. Tudo pelo ser amado. Coração a mil. Música, filme, cenas, beijos, histórias. Tudo lembra, tudo remete, tudo converge. Vaidade aflorada. Dentes bonitos, cabelo bem tratado, unhas impecáveis. O renovar do ser, o reviver das ilusões. E ficar rindo à toa, de nada, de tudo e de qualquer coisa.
Tempos depois... O filme rodando... Cadê a mocinha do celular? Cadê o motociclista? Casal comum, lugar comum. Noivaram, casaram, tiveram filhos. A vida? Pura rotina. Ele na cerveja, ela com as amigas. Ele no futebol, ela na novela. Ele grisalho, ela com alguns quilinhos a mais. Já nem se olham, mal se reconhecem. Relação ruída, convivência minada, aparências mantidas. Já não se beijam, nem se abraçam. Quase nem se falam. Cadê assunto? O máximo que fazem é se despedir nas saídas:
_Tchau!
_Tchau!
Tchau? Sim, ainda se dizem tchau. Aquele tchau lá dos tempos da Droga Nova? Aquele tchau incendiado nos calores da paixão? Aquele tchau de frisson e êxtase? Hum... Não... Daquele nem sinal... Literalmente, tchau amor!
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Moça,sério eu vou falando
Como gosto de apreciar
Casal idoso se beijando
Namorando de papo pro ar
Não importa a tal de libido
Se nada mais tá "erguido"
O amor,estão a compartilhar!
Não tem nem motocicleta
Pra ela dar uma voltinha
A "coisa" está mais quieta
A dele já "bem cansadinha"
Mas, prevalece o essencial
Com tempo bom ou temporal
Juntos vão dar uma voltinha!
O tempo passa e vai dizendo Tchal!
(Pedrinho Goltara)
(Muito bacana sua interação, Goltara! Agradeço o carinho, tá?)