Bala Perdida no peito da Sociedade.
Bala perdida encontrada.
Como que o senhor está se sentindo diante deste fato?
Foi a pergunta de um repórter ao pai do menino de 11 anos atingido por um balaço no peito em Costa Barros no subúrbio do Rio de Janeiro, durante confronto com a Policia Militar e supostos traficantes nas favelas da Quitanda e da Pedreira, zona norte da cidade maravilhosa.
- Meu filho amanhã será apenas mais um número na estatística de balas perdidas, na cidade do Rio de Janeiro e ninguém faz nada senhor, meu filho está morto.
Mais uma vitima da disputa de poder entre o trafico e a policia carioca, uma criança em sala de escola (CIEP), em plena aula de matemática, é alvejada com uma bala de fuzil, enquanto seu colega de 10 anos escondido debaixo da mesa da professora assiste a tudo com olhos que querem sair de órbita. Apenas uma bala, que tanto pode ser da policia como dos bandidos, porque a armas de uso exclusivo hoje estão tanto nas mãos da policia como no exercito do trafico naquela cidade como em outras.
A dor do pai diante daquela cena está se tornando um caso comum, como se estivéssemos aceitando como natural. Na reportagem a visível indignação daquele pai, que não derramava uma lagrima, talvez porque ainda não lhe tenha “caído a ficha”, como se diz no popular. O que certamente serão vistas, quando no ato de enterrar seu filho com apenas 11 anos.
Como confortar aquela mãe? Quando pela manha se dirigir ao quarto para acordar o filho para ir à escola? Como será a vida desta mãe acariciando cada coisa deste filho, como única maneira de ainda senti-lo? Imagine a dor desta mãe juntando as últimas lembranças materiais do filho amado, para doar a alguma criança pobre da área. É muita dor.
Chico Buarque numa canção de nome Pedaço de mim, escreve que a saudade é o pior tormento, é pior do que esquecimento é pior do que se entrevar, mas adiante no ápice de sua definição da saudade, ele afirma que a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu. Assim com esta canção pode-se explicar o que será a vida desta família.
E são muitos os casos, que já se contabilizam números anuais, comparações com anos anteriores, o que deveria ser uma coisa esporadicamente acidental, vai se tornando caso comum de rua, onde as balas passeiam livremente entre as pessoas como as moscas. Balas que ceifam vidas nos morros, como também nos imponentes edifícios com suas coberturas alvo fáceis às tais balas que se perdem. Que fazer? Onde se sentir seguro das balas esquizofrênicas, Alzheimerzadas (inventei, rsrs) que tanto saem das armas policiais como nas bandidas, nos deixando reféns das ações estabanadas e ou desastradas desta guerra. Sente-se que estamos numa verdadeira guerra, com o diferencial que recebe ataque de dois lados.
Em alguns casos destes confrontos, que são filmados pode-se perceber o desespero da população, na insegurança instalada, lembrando muito o dito popular de frango atirado em cisterna, por outro lado perceber da policia o mesmo desatino do crioulo doido, sem saber por onde começar.
Hoje num cemitério de Irajá num clima de revolta e tristeza, queima de pneus em vias publica o corpo de mais uma vitima das balas perdidas, desce a terra sob olhares lacrimejantes daquela comunidade, com os pais amparados por familiares e amigos.
Cristo Redentor que a tudo assiste, olhai por este povo, fazei com que cessem estas balas ou lhes ensinem o caminho das pedras.
* “Oh, pedaço de mim/Oh, metade arrancada de mim/Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto/A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu.” Pedaço de Mim-Chico Buarque de Holanda (1977-78)
Toninhobira
17/07/2010