O Fantasma da Biblioteca
Refleti agora sobre o que nos induz a pensar sobre isso. Levantei penoso da cadeira e fui até as estantes para guardar um Dom Casmurro ou um Moreninha, e juro, tive a nítida impressão de que algo se escondia entre as estantes do fundo. Não, não é a primeira vez que isso acontece, e teve outras que eu realmente fiquei assustado - como na vez em que sozinho e com a biblioteca fechada, encontrei livros infantis atirados no chão. Como se havia os guardado não muito tempo atrás? - mas afastei tal pensamento fantasioso, pois fantasmas não existem. Mas então porque esse pensamento, essa impressão é tão corríqueira, ainda mais quando estamos sozinhos? Porque o ambiente é propício para o medo, porque sozinho nós fantasiamos mais as coisas e também porque, quando estamos na companhia de outras pessoas não notamos tais acontecimentos. Toda hora um vulto, toda hora um barulho, um livro no chão, sempre uma sensação de estar sendo observado. Diferente da paranóia, isso não nos leva ao desespero - de imediato.
Mas seria errado pensar nisso? Imaginar que existe sim um fantasma me observando entre as estantes, e que ele derruba livros para me assustar, ou apenas para evidenciar que ele esteve por ali? Não acho de todo mal essa fantasia, a imaginação que deve conduzir nossa relação. Acredito nisso, de que eu e o fantasma temos uma relação, e de que não há mal nenhum nisso - tirando o fato de eu ter de arrumar duas vezes as estante infantis - pois um fantasma pode me ser amigo, também podemos trocar experiencias, ele me conta causos sobrenaturais sobre o outro lado, e eu lhe proporciono horas de conforto, lhe sirvo de companhia, sou o seu irmão e faço-o recordar de seus tempos carnais.
O que me fascina, são as possibilidades da imaginação, do convívio entre humanos e fantasmas, ciborgs, dragões, lobos da estepe, marqueses, viajantes, escritores; criaturas fantasticas. Não há mal na imortalidade, não há mal nenhum para uma mente criativa. Na verdade, se freiarmos nossa imaginação, freiarmos nossa criatividade, teremos medo, medo do escuro, medo do que não conhecemos, do bicho papão, dos políticos...
Mas ter medo é ruim também? Ahhh, não, não me leve a sério! Só escrevo para o fantasma ler!!