DEVANEIOS NO OCASO,..

Era apenas mais um final de tarde,menos um início de noite,estava em uma enseada, e apreciava deslumbrada o momento do qual mais gostava. Não havia explicação, apenas gostava de ver as cores se misturando em pinceladas de tons/brisa fresca e céu se enfeitando caprichosamente com seus pequenos brilhantes.

Podia fazer uma análise da vida, debruçada sobre si mesma e alinhada em seu universo, postada sobre uma pedra ainda morna.

Via a vida com olhos cheios de maresia, respirava, absorvia o ar marinho e se deixava esquecida ( ficaria ali por todo o sempre) de quem era no dia a dia.

Ouvia com os olhos da alma, baldes de tinta se despejando no firmamento/nuances e cintilações,se mesclarem para compor uma melodia nas entranhas do mundo que pulsava em silêncio.

Se deixava permissivamente envolver no momento e se dava ao luxo de esquecer todas as porradas que levara da vida.

Havia serenitude no pensar,certeza no viver e medo de acreditar no que poderia estar vindo novamente ao seu encontro.

Quem sabe mais um desencontro/desencanto...

Sabia que como os frios respingos das ondas transparentes que brincavam na pedra existem coisas na vida que são inexplicáveis,apenas passíveis/possíveis...

... e essas coisas continuam a habitar em nós.

Por que será que nunca se aprende?

Por que não se entende que calar é pior?

Ou será pior gritar aos quatro ventos a própria angústia em devaneios no ocaso ?

Por mais quebrada que a alma esteja parece que nunca aprendeu de verdade que gostar é desgostar-se, muitas vezes se remendando entre doações e dores.

Mas era fim de tarde e podia/queria/buscava ficar novamente se investigando,observando estrelas surgindo no céu multicolorido enquanto as ondas levavam em um "caldo" o resto de menos em dia.

Márcia Barcelos.

junho de 1993.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 16/07/2010
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