As verdadeiras fotos de Mercia Nakashima - desabafo

Abrir email é tão simples hoje em dia quanto conversar com um amigo. E sempre há os que recebemos sem um pingo de utilidade. Há emails engraçados, outros sérios que nos fazem refletir (muito embora a maioria deles não sirva para nada!), outros que são excluídos sem nem mesmo sabermos do que se trata. Há emails classificados como lixo eletrônico e há os que classificamos como lixo de verdade.

São esses lixos que me fizeram refletir um pouco sobre a vida, o respeito a ela e a capacidade do ser humano de desrespeitar as regras da ética e dos direitos humanos. Foi hoje o dia em que percebi o quanto o ser humano pode ser frio. Infelizmente ainda há pessoas que sentem curiosidade extrema quanto à morte alheia e desrespeitam o direito da dignidade. Parece que, mesmo depois de tanta crueldade e maldade, o bicho-homem ainda não aprendeu a ser gente.

Estou neste texto pouco me importando com as palavras usadas, com a boa escrita ou com o vocabulário rebuscado. Hoje só quero desabafar. É uma forma de protestar contra aqueles que publicaram as fotos de Mércia Nakashima depois de sua morte estúpida e covarde.

Foi há cinco minutos quando recebi um email com um título parecido com “cenas fortes, as verdadeiras fotos de Mércia” que me revoltei contra o ser humano sem escrúpulos e sem respeito. Será que sou eu a única que ainda pensa que as pessoas devem ser respeitadas mesmo em face de sua morte? Ou ainda há seres humanos no pleno sentido da palavra? Sua vontade de “mostrar a verdade nua e crua” chegaria ao ponto de encaminhar um email com fotos do corpo quase decomposto de uma moça que foi cruelmente assassinada?

As pessoas que auxiliam na divulgação dessas imagens não têm escrúpulos e nem coração. Não pensam que no lugar da advogada brilhante poderia estar um conhecido, um familiar. E não imaginam o tamanho da dor que seria ver tais imagens divulgadas internet afora. Não têm respeito pelos familiares que hoje choram a falta de alguém insubstituível. Ficam indiferentes quanto à divulgação de cenas que deveriam estar somente nos arquivos do IML, assunto o qual nem vou tocar aqui, pois o que importa mesmo é que as fotos estão rodando o Brasil e sendo vistas por milhares de pessoas, umas que se revoltam como eu e outras que gostam e sarcasticamente ajudam a espalhar tamanho desrespeito.

O fim desse desrespeito pode estar a um clique, porém. E a esperança no ser humano pode ainda continuar acesa nos corações daqueles que realmente respeitam a vida. Que a sua decisão hoje reflita o seu caráter.