JOÃO
João. Um nome simples, denominação de tantos brasileiros simples que engrandecem o País com seu trabalho. Um nome cujo símbolo maior, a meu ver, é um pássaro. Um pássaro que passa quase despercebido por sua cor, que se confunde com a terra. Um pássaro que não tem o destaque colorido das araras, não se exibe como um pavão, não faz alarde como as caturritas. É discreto e trabalhador. Esse operário, que labuta de sol a sol, tem seu nome associado à matéria-prima que, linda e exemplarmente, maneja. Seu nome é a soma de João, homem, mais o barro, matéria.
O joão-de-barro me encanta. E não só pelo excelente engenheiro que é. Suas construções são obras-primas do talento que a natureza lhe proporcionou. Constrói casas, edifícios, verdadeiros condomínios. De dar inveja a muitos homens, cujos prédios não resistem à ação dos elementos. Talvez porque o joão-de-barro seja honesto e não constrói visando lucros. Mas, eu dizia que ele me encanta e não só pelas construções. Fico admirando, no pátio da minha casa, seu vai-e-vem diário. Porque ele não voa quando está à cata de terra para construir ou de bichinhos para alimentar sua prole. Ele caminha. Ele dá pequenas corridas, bicando aqui e ali, e só levanta vôo para ir até sua "residência" que, nas cidades, está geralmente nos postes de luz e até em reentrâncias dos edifícios.
Para concluir: "adotei" um joão-de-barro que frequenta meu quintal e todos os dias toma banho num bebedouro que ali coloquei. Pode a temperatura estar 3 ou 4 graus e lá está ele, mais ou menos entre 9 e 10 horas da manhã, fazendo sua higiene. Eu o chamo simplesmente de "João". No início pensei que ele era viúvo, pois o via sempre sozinho... Mas percebi, depois, que havia uma companheira. Aliás, outra característica louvável no joão-de-barro, é a fidelidade. A união é monogâmica, estável e vitalícia. A seu desfavor tem a história de que o macho prende a fêmea dentro da casinha quando é traído. Um tanto desumano... Será que é herança adquirida de sua convivência com a raça humana?
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João de barro
Arquiteto sem igual
Casa fenomenal.
* Regina Pessoa, amei teu haikai! Obrigada!