A HISTÓRIA DO CARCARÁ
Lêda Torre
O medo é uma característica típica das crianças, de modo que talvez hoje isso não seja tão latente. Mas, há umas décadas atrás, até o medo delas era medo, de verdade, muito medo... e é com base em medo que relatarei fatos que acontecem na infância de cada um.
Minha mana , Delfina, uma garota de mais ou menos seis aninhos, era tão medrosa, que se falasse a palavra alma, ela chorava, dava até crises de gritos e choro. ..e, menino que é uma “bênção”, queria achar um tantinho assim para pegar no pé de quem era medroso. E assim foi. Toda noite como nos sentávamos na calçada na frente de casa para a sessão diária de “contação de histórias”, brincadeiras de esconde-esconde e outros joguinhos do faz de conta, e a chegada de dona Joana da Norata, uma das contadoras de histórias, cada dia se escolhia um assunto pra se falar, que hoje, chamaríamos de tema, e num desses dias, o tema era o carcará...Nessa noite, o assunto carcará e mais as coisas sobrenaturais, do além, as bruxas, o lobisomem, as almas, os fantasmas, as assombrações, os dragões, etc, eram associados com música que estava na moda naquele tempo, a música do cantor e compositor João do Vale, de nome carcará.
Como nunca tínhamos visto o tal bicho, imaginávamos que ele era bicudo, com garras tão afiadas, e matador, horrendo!! o que se pensava sobre ele, era um absurdo! Não tínhamos nenhuma idéia sobre isso. Pois naquele tempo não existia como pesquisar igual a hoje que tem internet. E nossa personagem da vez, a medrosa, só de ouvir falar no tal carcará, coitadinha, se tremia toda e ficava agarrando a gente, os mais velhos... e a meninada caía na risada, achava tanta graça, enquanto a pobrezinha se borrava toda de medo...
Sem mais nem pra que, chegando a hora de dormir, quem disse que a menina medrosa saía do lugar? Lá onde se falava dessa bicharada, saiu o nome do carcará como um desses seres fantasmagóricos, nunca se imaginou que fosse um espécime tipo falconídeo, chamam-no até de águia brasileira. Mas as duas irmãzinhas gostavam de atentar a menina medrosa, fazia-a dormir com o lençol cobrindo a cabeça e tudo, e a coitadinha fechava os olhinhos para não mais abrir, só de medo... e as daniscas das suas irmãs, era só a garota fazer qualquer gesto a mais, ou qualquer bobagem, de criança mesmo, que elas desenhavam até nas portas do quarto da medrosa, afrontando-a dizendo ser o tal carcará....e imaginem só, o medo da menina!!! Até que o sono chegasse...e desse esse descando pra ela. Mas que maldade!!
O carcará, por vezes chamado de carancho e caracará, é um falconídeo. Seu nome científico é Polyborus plancus ou Caracara cheriway; a subespécie brasileira é P. p. brasiliensis. É tido como ave tipicamente brasileira, tanto que Audubon o chamava, no século XIX, de águia-brasileira. No entanto, possui uma distribuição geográfica ampla, que vai da Argentina até o sul dos Estados Unidos, ocupando toda uma variedade de ecossistemas, fora a cordilheira dos Andes.
O carcará é facilmente reconhecível quando pousado, pelo fato de possuir uma espécie de solidéu preto sobre a cabeça, assim como um bico adunco e alto, que assemelha-se à lâmina de um cutelo; a face é vermelha. É recoberto de preto na parte superior e possui o peito de uma combinação de marrom claro com riscas pretas, de tipo carijó/pedrês; patas compridas e de cor amarela; em vôo, assemelha-se a um urubu, mas é reconhecível por duas manchas de cor clara na extremidade das asas.
O carcará não é, taxonomicamente, uma águia, e sim um parente distante dos falcões. Diferentemente destes, no entanto, não é um predador especializado, e sim um generalista e oportunista (assim como os seus parentes próximos, o chimango e o gavião-carrapateiro ou chimango-branco) alimentando-se de insetos, anfíbios, roedores e quaisquer outras presas fáceis; ataca crias de mamíferos (como filhotes recém-nascidos de ovelhas) e acompanha os urubus em busca de carniça. Passa muito tempo no chão, ajudado pelas suas longas patas adaptadas à marcha, mas é também um excelente voador e planador.
É tão bom recordar essas coisas que ao fazermos isso, é como se passasse uma fita na nossa mente, e quando a família se reúne, já viu, é só para sorrirmos de nossas brincadeiras de crianças. Mas uma coisa vale lembrar, éramos felizes e não sabíamos, porque hoje as crianças nem sabem mais brincar. Brincam apenas de heróis, de ser bandido ou mocinho, e reproduzem pura e mecanicamente o que a professora televisão ensina, dentro da nossa casa.
Vejam mais coisas sobre o “carcará no meu blog:
ledapoeta. blogspot.com