Há males que vem para o bem
Fiz-me um freqüentador de hospitais, posso adiantar que não sou hipocondríaco, nenhuma tara me acomete, nada de masoquismo, também não conheço uma enfermeira a cada nosocômio. A atração fica por conta do pão de queijo; você já comeu pão de queijo de hospital?
Meu filho passou por uma cirurgia e eu o acompanhei, ou melhor, eu descobri que na lanchonete do hospital havia um pão de queijo delicioso, nada parecido com outros que experimentei em bares, locais apropriados e padarias...que fantástico.
Aprendi a driblar horários para ir buscar mais um, enfim, meu filho perdeu 7 quilos em decorrência da cirurgia pela qual ele passou e eu engordei 7 quilos em decorrência da mesma cirurgia, afinal eu não teria descoberto o delicioso pãozinho se não fosse aquela internação.
Querendo sair de madrugada para dirigir-me ao hospital, fui retido pela minha consciência, eu, que peso mais de 100 quilos não posso sair de madrugada, sentindo-me bem, para comer pão de queijo, isto chama-se falta de vergonha, ou gula, se eu quiser usar um eufemismo.
Rolando na cama, sem conseguir dormir, só pensando em pão de queijo de hospital, a memória me reportou há 20 anos atrás, quando outra filha passou por outra cirurgia...em outro hospital, estarei eu condicionado a pão de queijo ou o pão de queijo daquele outro hospital também era fantástico?
Se você tem filhos que possam ser operados, se pesa mais de 100 quilos, ou tem um peso não condizente com sua altura, e gosta excessivamente de pão de queijo, não freqüente as lanchonetes de hospitais, sim, elas criam dependência.
Eu vago pelos porões da ditadura, sim, a gula me obriga a andar à deriva em busca de hospitais, ou de pães de queijo?
Que Deus se apiede de mim: para que meus filhos não necessitem mais de cirurgias, que eu não freqüente mais hospitais, e que aquelas maravilhas servidas em lanchonetes hospitalares sejam vendidas, com a mesma qualidade, na padaria do meu bairro, pois:
há males que eu como bem.