JUSTO E PECADOR
Todo dia a gente recebe mil telefonemas oferecendo cartão de crédito, seguros ou dizendo: você foi sorteada. A gente tenta ser educada dizendo que não quer a oferta, mas ,o melhor mesmo é desligar. Principalmente quando não estamos com tempo disponível. A insistência e tentativa para o possível convencimento são demoradas.
Após dois telefonemas deste gênero recebo um terceiro. Já não tinha mais paciência para escutar tudo outra vez. Atendi com uma voz um tanto aborrecida.
- Alô?
- Quem fala?
- Teresa (inventei um nome, disse o primeiro que veio a minha cabeça).
Do outro lado silêncio.
- Diga logo o que você quer, estou muito ocupada.
- Não é Maria que está falando?
Dei – me conta que não se tratava de um trote. Mudei o tom de voz.
- Sim. Sou eu mesma. Pode dizer.
- Não, não, você está ocupada. Ligo depois.
- Não, pode falar agora.
Bip, bip. Telefone desligado. Passeio o resto do dia esperando um retorno. Não veio. Na verdade, achava que a pessoa não me ligaria mesmo. Não fui nada receptiva. Senti na sua voz uma decepção. E não era para menos. Fui grosseira, indelicada.
Vi no visor do telefone que o prefixo era 49. A voz não era de amigos, o DDD também não me remete a ninguém de meu relacionamento. Mas, nem sempre a gente reconhece a voz das pessoas de nosso contato. Fiquei em dúvida. Poderia ser um colega ligando de outra cidade de um telefone fixo. Lembrei – me que no “Recanto das Letras” tenho me comunicado com pessoas de todos os Estados. Trocamos e-mails e livros. Seria por acaso um amigo recantista?
Bem cabível neste momento aquele adágio. “O justo paga pelo pecador”. Aprendi a lição. Nunca perca sua postura. Não deixe ninguém subtrair sua paciência, educação e gentileza. Escute primeiro antes de julgar. Pelo sim, pelo não fica meu pedido de desculpas. Na internet as palavras têm asas. Voam alto e quem sabe chegue até você que me ligou hoje. Retorne-me, viu?