Faculdade = Trabalhos e mais Trabalhos.
Larissa Glass
No curso de Comunicação Social é sempre a mesma coisa. Início de semestre predomina uma calmaria, com muita teoria, até a chegada do segundo bimestre e, com ele, a hora de colocar em prática o que acabamos de ver nas explicações, conceitos e formas de execução repassadas pelos professores.
E nestes momentos aperte o cinto, pois muitas coisas podem e com toda certeza vão acontecer. No último período cursado, estava no módulo de TV, talvez o módulo mais esperado por muitos da sala e o que mais deu trabalho. Nosso primeiro trabalho prático não saiu exatamente como esperávamos. Saímos de Curitiba rumo a Campo Largo para fazer uma gravação sobre voluntariado com funcionários de uma empresa que estavam fazendo um trabalho voluntário com crianças naquele dia. Ônibus que atrasa, sentido pego errado dando uma volta desnecessária, chegamos um pouco atrasadas, mas chegamos certo? Pronto para a gravação? Câmera, microfone, entrevistados a postos, mas onde bate o branco? Entre olhares a resposta: não sei! O que é isso? O branco faz a leitura e o ajuste da luz ambiente onde está sendo gravado, e é necessário ser “batido” antes de começar a gravação.
Mas eu não sei como faz, apenas sei que tem que ser feito. Mexemos um pouco na câmera, sem sucesso, e como o tempo estava correndo, decidimos gravar sem bater o branco mesmo e seja o que Deus quiser.
Resultado: imagens todas azuladas. Ainda bem que existe ilha de edição que corrige um pouco essas imperfeições causadas pela falta de conhecimentos das alunas.
Segundo trabalho: tema “Solidão”. Para ajudar a professora pediu um vt completo. Com sonoras (entrevistados), fala-povo ( entrevista com várias pessoas na rua respondendo uma pergunta) e especialista. Por onde começar? Solidão remete a pessoas solitárias que vivem sozinhas.
Que tal passar uma visão diferente? Vamos falar da solidão que se sente apenas em alguns momentos e pegar uma pessoa jovem que morra longe dos pais, trabalha, estuda, mas quando chega em casa a solidão aperta? Ótimo, pois tenho um bom contato. Pena que estava viajando e não daria tempo de gravar com ela.
Então vamos para o plano B. Asilo? Pode ser. Tudo certo para a gravação no asilo então. È, tudo certo estaria se não tivesse feito contato com uma estagiária que esqueceu de agendar nossa visita e informar toda o burocracia que é filmar em lugares como esse.
E agora? Só temos amanhã para gravar e não vai dar tempo. Tentamos contatos com alguns asilos da cidade até que um nos cedeu a filmagem, mas ainda tinha a parte burocrática, correria atrás das documentações.
No dia da gravação, histórias emocionantes, comoventes e de muita reflexão. Momentos que ficaram gravados em quem esteve lá, risos e lágrimas se misturavam e nos deparamos com os dilemas de um jornalista: qual é o momento certo de parar? Mesmo sabendo que se continuássemos poderíamos ter conseguido imagens e histórias mais emocionantes, como estávamos lidando com pessoas idosas e com muita fragilidade, optamos pelo respeito e por não cutucar as feridas ali expostas como se nós conhecêssemos há anos.
Segunda parte, o fala povo. Vamos deixar nossos colegas aprenderem a mexer na câmera e mudar as “posições” para que todos aprendam a fazer de tudo um pouco? Vamos! Explicações passadas, vamos lá? Entrevistado um, dois, três, quatro.
Poxa tá difícil, estamos em Curitiba onde um fala povo já é difícil e ainda falar sobre sentimento como solidão? O desespero ficou maior quando foi verificado que nosso cinegrafista estava gravando quando estávamos abordando as pessoas e quando a pessoa cedia a entrevista ele não gravava, ou seja, não tínhamos nenhuma entrevista. Ah, você não entendeu nada? Vontade de dar uns socos...
Bom, voltei para câmera local onde permaneci nos demais trabalhos. Depois de horas na XV conseguimos boas sonoras.
Parte três, o especialista. Nosso primeiro bolo e mais um aprendizado: nunca tenha apenas uma fonte, pois jornalistas dependem de fontes. Sempre tenha uma segunda opção.
Chegamos ao escritório do psicólogo que iríamos entrevistar. A porta estava fechada, batemos, ligamos e nada. Bate o desespero. O trabalho era para terça e já era sexta e ainda tinha que ser editado.
Comecei a olhar nos prédios próximos se havia algum escritório de psicologia para tentar na sorte conseguir um profissional disposto a ceder uma entrevista sem hora marcada e nada. Quando voltei, vi uma cena que é impossível esquecer.
Meus companheiros de equipe sentados no chão com todos os equipamentos em volta me olhando com aquela cara de “estamos quebrados”. Tudo bem afinal, equipamento pesa, mais mala, bolsa, além de que estávamos desde cedo gravando em locais diferentes e carregando aqueles jumbo.
Voltamos para a faculdade desconsolados. Depois de várias tentativas, conseguimos outro entrevistado, mas para segunda e estaríamos sem equipamento. Neste momento, a camaradagem entre colegas entra em ação e o grupo que estaria com o equipamento tinha uma entrevista mais à noitinha e deixou os equipamentos com a gente.
Assim conseguimos fazer e concluir nosso vt.
Terceiro trabalho. Tema “Profissão artista”. Depois de horas discutindo qual seria a abordagem dada para o tema. O grupo estava dividido entre o fácil e o clichê dos artistas da rua XV. Com um vt mais trabalho e lógico mais complicado.
Ficamos com a segunda opção e decidimos falar sobre teatro e balé. Como o balé do BTG ( Balé do Teatro Guairá) estava em viagem, ficamos apenas com o teatro.
Entrevistamos um professor psicoterapeuta que atua em uma nova modalidade de teatro, o playback. Na entrevista foi tudo às mil maravilhosas. O segundo entrevistado gravamos na faculdade. Deu um pouco de trabalho, afinal de contas era um ator/diretor e só falava do aluno dele que estava entrando na Malhação.
Deu muito trabalho na hora de editar, pois tínhamos muitas histórias boas, que fariam a diferença, e tínhamos que resumir tudo em cinco minutos.
Ultimo vt, tema livre. Então faremos sobre o quê? Um dos integrantes sugeriu “Profissionais do sexo”. Você tá louco? Falar de um tema desse é muito complicado, é delicado e tal. Mais fui a única a me opor a idéia dele.
Logo começou a correria atrás de personagens da matéria. A primeira que conversamos queria cobrar o valor de um programa normal para conversar com a gente. Ah, não né! Vamos atrás de outra e nisso uma das pessoas do grupo falou que o tio dela trabalhava com bares e conhecia a dona de uma casa.
Conseguimos contato e agendar lá. Ótimo, então vamos fazer a diferença entre as profissionais que trabalham em casas e as que trabalham na rua, falar sobre a proposta de serem reconhecidas como profissionais perante à lei. Mais correria. Entrevistamos um advogado trabalhista, fizemos uma fala povo perguntando se as pessoas concordavam com a legalização da profissão.
A surpresa, grande, pois a maioria foi a favor. Antes de irmos gravar na casa, passamos pelas ruas centrais da cidade para gravar com as meninas que ficam nas ruas. Lei de Murphy. Quando você procura, você não acha.
Rodamos um bom tempo até encontrar duas que preferiram fumar um cigarrinho de maconha antes de falar para relaxar um pouco. Não podíamos esperar, pois tínhamos marcado hora para gravar na casa e lá fomos nós. Lá a gravação foi tranqüila. Conversamos com a dona da casa que nos contou como começou e o cuidado que tem com suas “meninas”.
Conversamos com as três “meninas” que estavam lá naquele dia e apenas uma aceitou gravar. Mas três contaram suas história enriquecendo assim nosso trabalho.
E as que trabalham na rua? Vamos voltar pro centro? Isso já era mais de 1 hora da manhã. Vamos sim. Andamos pelas “melhores” ruas, Marechal, Conselheiro Laurindo, 13 de Maio e por aí, para capturar imagens.
Mais não é que a Lei de Murphy resolver aparecer novamente! Quando estávamos quase desistindo, encontramos duas na esquina. Paramos o carro, tomei todo cuidado para colocar a câmera para fora sem chamar muita atenção.
Silêncio total dentro do carro. Até um grito de “Acelera” quebrar o silêncio e trazer um clima de tensão. Quase deixei a câmera cair com o susto. Um rapaz se aproxima do carro. Mas conseguimos sair e ir para casa. Chega de aventuras por aquela noite.
Como sempre nosso vt acabou na edição. E, assim, finalizamos nossos trabalhos práticos da disciplina de Laboratório de Telejornalismo.