Alma febril
Águida Hettwer
 
 
    O ato de escrever não cessa, há uma vírgula teimosa a contestar, um ponto mal colocado, reticência do por vir em seqüência. Numa desordem ajeitada, áspero oficio da palavra segue caminhos sinuosos. Fazendo da vida um poema, de verso livre sem rima e métrica.
 
    Captando dores alheias tão parecidas com as minhas. Respirando aragem fresca, no romper das expectativas. A alma queima em febril emoção, na magia da noite ama em silêncio, enquanto todos dormem.
 
   Entre o pensamento e a escrita há ícones ocultos. Corredores obscuros, onde a passagem é estreita, agarram-se as paredes com medo de cair. Por defesa a natureza do homem costuma ocultar, fingindo indiferença do confrontamento.
 
 No fio tênue da memória, tecemos rendas de lembranças.  Contudo, sempre sobram retalhos espalhados pelo chão. Palavras ditas em hora imprópria, falsas promessas, comparações.
 
 Na dádiva da vida, tão longe mora a distância, bem perto habita a saudade, pulsa forte no peito, palpita ás vezes de emoção. Ninguém convida a dor a entrar, ela é mal educada, arromba sem avisar. E nessa linguagem da alma, o sentimento pede a vez, chora baixinho, suplica e se rende.
 
   Nesse deslumbramento que é o amor, dura o suficiente para ser eterno.
 
 
 
 
                                                                        13.07.2010