Pescaria - a contabilidade de peixes do Batata...

Pescaria - a contabilidade de peixes do Batata...

Saí de férias e tratei de baixar para a terrinha, onde moram os meus pais, um filho, os parentes e amigos da infância.

Depois de algum tempo visitando os parentes e amigos de longa data (inclusive o amigo João do Nelson, abatido por uma anemia brava, que tem lhe tirado o ânimo para a convivência e as tardes de rancho, com os amigos), comecei a gozar dos prazeres do descanso, com as opções típicas de uma cidadezinha do interior.

E o primeiro compromisso foi provar de um caldão de lobós, seguido de um paiuaçú assado, na casa do Danielinho, primo do Batata, que, sobre ser meu amigo, entrou na família e, também virou primo.

Rapaz! Aquele caldão, que era acompanhado de uns goles de uma pinguinha com limão estava tão bom, que marcaram uma outra pescaria para o dia seguinte, para garantir peixes para preparar mais um caldo. E eu estava incluído.

Na tarde do dia seguinte, fomos eu, Batata, Danielinho e, JL para a pescaria. E os lobós, assim como as traíras, são peixes que se pegam somente a partir do entardecer.

Baixamos para uma fazenda vizinha à cidade, preparamos as varas (curtas e, da ponta mais dura) e as iscas para a pescaria. Batata, não parava de anunciar que pegaria no mínimo, seis bagres bons, pois não era de negar fogo. Danielinho mantinha-se em silêncio, enquanto preparava sua tralha. Mas, sua rápida ida e volta do córrego com vinte lambaris para fazer isca indicava bem que ele não estava para brincadeira. JL, enquanto provava de uma "margosa" que levara, dizia que não pretendia voltar pra casa com a mão na bunda. E eu, que não entendo muito de pescaria só prometia fazer o possível para ajudar na pescaria...

Danielinho e JL subiram para um vau, que distava uns quinhentos metros de onde estávamos. E eu segui Batata, rumo a uns poços que ficavam pouco acima e, onde ele dizia que não perdia viagem. A tiracolo, levamos um vinho de jurubeba, para "quentar" o frio.

Assim que lancei a isca na água, senti a batida típica de um bagre chorão e dei uma chascada, para puxá-lo para fora. Pouco depois, batata, abriu sua contagem. E aí, peguei mais um e, deixei outro escapulir, depois de fisgado. Mas, fiquei só nesses dois, pois a partir daí só vinham na isca uns peixes malandros, que ficavam beliscando e mamando a isca, sem dar chance de fisgá-los.

Batata teve sorte melhor, pois fisgou mais três lobós, em seguida. Mas, depois disso, também parecia não conseguir mais nada, zanzando para cima e para baixo, na margem do córrego Água Branca das Morangas. A certa altura se assustou, apontando a lanterna na margem oposta, informando que havia um rato d'água por lá.

Depois umas duas horas pescando, ouvimos a buzina do carro. Era JL nos chamando para ir embora.

Fui catar os meus peixes que havia posto no chão e, surpresa!, não os achei. Peguei a lanterna do Batata e, procurei e procurei e, nada dos bagres que fisguei. Meu colega disse-me para desistir que, eu tinha dado moleza e, o ratão que estava por ali tinha surrupiado meus peixes.

Quando nos juntamos aos outros companheiros, fomos verificar o resultado da pescaria. JL pegou quatro lobós, mas um deles, bem grandão, valia por cinco dos outros. Danielinho, demonstrando toda a sua manha na pescaria, exibiu doze bagres, entre lobós e chorões, uma traíra e dez lambaris. E aí, o Batata contabilizou seis bagres fisgados. Olharam então para mim e, eu informei que tinha pego só dois e, que eles, provavelmente tinham sido levados por um rato d'água.

Danielinho desconfiou da coisa. Ratão manso, de chegar perto de gente? Então ele olhou desconfiado para o Batata e, sentenciou:

- Eu conheço bem um "rato" assim. Taí, hein, Batata? Pegou dois bagres emprestados e cumpriu sua meta de seis bagres, hein?"

Já fomos direto pra casa do Danielinho, preparar o caldão de peixe. E aí, repartimos as tarefas. Batata e eu, fomos limpar os peixes. Danielinho, por questão de preparo e consagração popular, foi para a cozinha. E JL foi comprar umas cervejas, para saborear o tira-gosto de peixe frito, que seria servido enquanto a gente aguarda o prato principal.

Demorou, mas saiu uma uma panelada enorme de caldão de peixe. Nos fartamos dele, enquanto as histórias engraçadas e malucas iam sendo contadas pelos presentes. Uma delas, era sobre o dia em que JL experimentou pela primeira vez um comprimido de estimulante sexual no horário de trabalho, foi a mais hilária de todas - ri até correr água nos olhos!

Mas como ele pediu segredo sobre a história, não dá pra detalhar nada sobre ela, nesta crônica.

Até!