Caminhando... Cantando ou Chorando...

As ciências médicas são enfáticas ao dizerem que o cigarro causa câncer, perda de dentes, impotência sexual e consequentemente a morte.

Porém, vendo por outro ângulo, o estágio é tão lento que quando chegamos a esta fase não precisamos mais do que fora perdido.

A velhice sim é uma doença irremediável, miserável, a pior de todas. Esperneia-se, arrasta-se, uiva-se, desespera-se, mas não há jeito, quando menos se espera, lá está ela, esta cadela, a nos espreitar, aproximando-se calmamente rumo à sua presa, a juventude, deixando um rastro de fealdade e malogro na decomposição do composto químico intitulado corpo-vida.

Lógico que existem alguns organismos menos propensos às mazelas mundanas, que absorvem mais lentamente as toxinas da vida, mas tudo isso não passa de uma questão de auto-conhecimento. “conhecer a si mesmo, eia a questão”.

Há também os duros feito rochas rolando, os rocker’s, que quedam-se silentes em seus tugúrios, como se nada houvesse por acontecer. São os serenos, e vivem melhor.

Diante tantas elucubrações desconexas, indago-me: qual a finalidade de toda essa degeneração? Pra onde irão nossos sentimentos quando abandonarmos de vez o todo que nos compõe? Serão ainda “nós”? Existirá um “eu” interior em cada um que não podemos enxergar, e que quando a carcaça perde sua função esse “eu” entra em cena, desmaterializado, livre, vacante pelo ecossistema?

São questões postas para análise e que afligem muitos, apesar de não saberem o que seja, inculcando-os, desta feita, a criarem deveras conjeturas na esperança vã de encontrar uma solução plausível que seja, por mais absurda que possa parecer.

O homem, no decorrer da história, desenvolveram religiões milenares com o escopo de solucionar os problemas da alma e do corpo ansiando pela libertação das agruras mundanas. Deuses foram lançados aos borbotões aos céus para que fossem vistos como a causa única para tudo isso. Nossas insignificâncias jamais foram aceitas como verdadeiras. Seremos sempre a imagem e semelhança de deus, não aceitando que este mesmo deus é que é a imagem e semelhança de nós homens falhos. A terra ainda é o centro do universo para muitos, sendo que o homem veio da lama e a mulher da costela da lama. E a lhama, de onde veio?

No entanto, continuamos leigos no assunto que se refere a origem e fim de nossas vidas, questionando a cada dia qual o sentido único de tudo isso, e porque temos de erguer nossas carcaças da cama todos os dias de manhã para laborar, para comer e assim dar procedência mais uma vez a todo esse absurdo.

E é essa persistência, esse não saber nada, esse anseio de não se sabe o que, essa batalha desenfreada, é isso, creio eu, que nos impulsiona a tentar, uma vez que, de nada valeria a vida se soubéssemos seus intentos desde plano.

Por derradeiro, por mais céticos ou religiosos que sejamos, por mais severos, desregrados ou insanos, por todas as ideologias e deveres do cotidiano, iremos, mesmo que por um lapso não saibamos ao certo para onde, mesmo assim iremos caminhando, seja cantando ou chorando..., iremos...

Ou tem alguém aí que quer ficar?

Cristiano Covas, 09.03.05.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 13/07/2010
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