AUTOGRAFEI PARA O CHICO ANYSIO E JÔ SOARES

Na maioria das vezes me esqueço que sou escritor. Até mesmo muitos dos meus amigos nem sabem desse fato. Nem me lembro muitas vezes de contar e algumas vezes até me reprimo, pois me parece vaidade demasiada e presunção exacerbada contar repetidas vezes. Imagino que algumas pessoas poderiam sentir-se humilhadas, enquanto outras nem dariam mesmo importância. É estranha também a apatia de alguns parentes quanto ao fato de se ter publicado um livro, como foi o meu caso. Uns reagem como se isso não tivesse a menor importância. Talvez, em seu preconceito, não consigam mesmo materializar o fato, não crendo que seja possível, talvez por essa minha cara de “sonso”, como disse uma redatora comercial ao me entrevistar para uma vaga de diretor de criação em uma agência de propaganda em 1991 na cidade de Caxias do Sul. Entretanto, apesar da inveja que alguns possam ter, e mesmo que muitos não creiam, eu publiquei dois livros de duzentos e quarenta páginas cada (Os Meninos da Guerra, o primeiro, e Os Sonhos Não Conhecem Obstáculos, o segundo) e do primeiro já fiz também a segunda edição revista e corrigida. E mais do que isto, meus livros satisfazem todos os requisitos internacionais de qualidade, podendo ser expostos e vendidos em qualquer livraria do planeta.

Quando publiquei o primeiro muitas pessoas se sentiram de alguma forma agredidas com o fato. Algumas não conseguiram conter a inveja e se apegaram aos erros precipitando-se afoitas e violentas a criticar deselegantemente. Por algum tempo até cheguei a ter vergonha de apresentar a publicação por causa desses erros, mas fui vendo com o passar do tempo que até mesmo dicionários têm erros e as pessoas que se julgam perfeitas e exigem isto dos outros são as piores que existem, sendo que é mais que sabido que as críticas mais implacáveis provêm das pessoas mais fracassadas.

Quando falei de meus livros, um primo me perguntou se as publicações me renderam bons dividendos. Fiquei sem resposta, pois na verdade não vendeu muito e não ganhei quase nada. Mas ganhei alguma coisa sim. Uma delas foi a satisfação de poder ler meu próprio livro e vê-lo nas estantes e vitrines de grandes livrarias. Em nível financeiro filhos só dão prejuízos para os pais, mas ninguém questiona a satisfação de tê-los. Porque então eu haveria de sentir-me menos satisfeito pela realização de ter publicado um livro só porque ele não se tornou best seller e nem pude viver dele? O que importa é que eu disse nele o que desejava dizer, o que achava que as pessoas deviam saber, que poderia melhorar a sociedade.

Aliás, por causa dessa estreita visão comercial meu primeiro livro não foi publicado por uma editora que o venderia muito mais. É que para ser vendável o editor inquiria que fossem “amputadas as pernas” da publicação, impondo que eu devia apenas explorar o lado sensacionalista, sendo que dizia que com umas seis ou sete cenas bem fortes ele venderia bem. Construí algumas cenas fortes conforme o fato verídico permitia, mas não quis tirar do conteúdo a visão história, filosófica e ideológica que me tinham motivado a escrevê-lo. Disse-lhe que jamais me daria a futilidade de gastar meu tempo escrevendo e publicando um livro só para produzir nas pessoas raiva, tristeza ou alegria sem que isso lhes ensinasse um pouco de humanidade e fraternidade. E, sendo que ele era intransigente quanto a esses conceitos, que para ele não importavam do ponto de vista comercial, tirei-lhe o livro na derradeira hora de me inscrever para a Feira do Livro de Porto Alegre de 2003 e porque tive que atropelar as revisões ele saiu com muitos erros. Entretanto, não arrisquei a possibilidade de perder a oportunidade e isso me rendeu a segunda edição patrocinada pelo Banco Matone, quando pude friamente eliminar os erros, e me rendeu o segundo livro, que poderia ter me rendido o terceiro se o tema não fosse contra os meus princípios.

Graças a isso, pouco depois da inauguração da Feira pude finalmente dar de mão de um exemplar da tiragem de dois mil e andar à pé para casa calma e satisfatoriamente, lendo meu próprio livro valendo-me da iluminação pública, sendo essa a noite do meu maior triunfo, onde comecei a saborear as páginas do livro que eu mesmo redigira. E o fiz como faria o leitor, percebendo inclusive já alguns erros, uns um pouco grassos, mas que na visão dos que esperaram mais de uma hora na fila para pegar o autógrafo não comprometeu em nada o conteúdo e a importância da edição. Ao contrário, na seção de autógrafos uma senhora idosa cochichou-me que se os autores fossem corajosos como fui, dizendo sem medo o que tem que ser dito, o mundo seria muito melhor do que é.

Antes ainda do lançamento oficial, no domingo em que foram entregues os pacotes com os livros, eu e Hilel (de apelido Guilherme e Guilhermão), personagem central da história do livro, de manhã já participamos de um debate em um programa judeu na rádio Bandeirantes. Poucos dias depois fomos entrevistados por Tânia Carvalho em seu programa na Band. No dia do lançamento, enquanto eu procurava fazer contato com uma diretora do jornal Diário de Canoas, recebi um convite da rádio Pampa para falar sobre o livro em seu estúdio montado na Feira. Na manhã daquele dia estivera no programa do GuGu, na rádio Farroupilha, falando do lançamento do livro e distribuindo exemplares para os ouvintes. No dia seguinte o Jornal Zero Hora trouxe no caderno da Feira matéria sobre nossa seção de autógrafos, publicando foto colorida onde eu e seu Guilherme autografávamos para nossos amigos. E dias mais tarde já tinham sido publicadas matérias sobre Os Meninos da Guerra no Jornal do Comércio, Diário Gaúcho e alguns pequenos periódicos do Interior do Estado, além de na Revista Carta Capilé, de São Leopoldo, e a roda viva que participamos na rádio Novo Horizonte em Capão da Canoa e debate na TV Guaíba, canal 2.

A despeito das críticas não motivadas pela intenção de ajudar, recebi críticas construtivas e algumas vezes até fui exaltado. Da Presidente da federação Israelita de Porto Alegre recebi carta de recomendação referindo-se ao livro e sua importância, haja vista ele ter tratado da sobrevivência de um e outros meninos judeus ao holocausto nazista. Na sinagoga do Centro Israelita fui homenageado pelo feito, ressaltando o ter tratado da cultura e história judaicas com tanta propriedade e zelo. O professor Mário Sá, doutor em Filosofia e então professor da Universidade Luterana do Brasil, prontificou-se em resenhar sobre meu livro e me disse que seu pai, um cirurgião dentista que possui a maior biblioteca particular que ele conhece, leu meu livro duas vezes, sendo que ele somente lê duas vezes o livro que considera bom e os tais então compõem a maior parte de seu acervo. Disse ele que seu pai falou apenas que se o livro não tivesse a parte central já estaria bom. Melhor dizendo, ele disse que os capítulos centrais eram desnecessários. Mais adiante conheci a psicanalista Marines Assunção, a qual me disse que Os Meninos da Guerra a motivou a publicar sua primeira obra literária, Um Olhar Para a Vida, que ela lançou em 2004. E justamente depois desse livro lancei Os Sonhos não Conhecem Obstáculos, o qual recebeu grandes manifestações de apresso, ressaltando o comentário de Denise Wichmann que disse emocionada ao telefone que após ter passado a noite lendo o livro mudou completamente sua visão e posicionamento sobre os portadores de deficiência física.

Alguém importante que leu Os Meninos da Guerra foi o pastor Wesley Zukowski, diretor do Instituto Adventista Cruzeiro do Sul, pois pessoalmente alcancei-lhe um exemplar da segunda edição em 2005. Entretanto, depois disso não mais tive contato com ele para ouvir seu parecer sobre o livro.

Ainda nos dias atuais recebo elogios ao livro Os Meninos da Guerra. Ao visitar-nos, o jornalista Jair Winguert falou de sua esposa que leu o livro e disse que o texto é muito bom. Acrescentou que por isso despertou-lhe o desejo de conhecer. Outras pessoas, porém, as quais não conheci, falaram bem de Os Meninos da Guerra no Recanto da Letras. No endereço http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/140851 o leitor Cláudio Oliveira disse tratar-se de um dos melhores que ele já leu e que se algum produtor o transformasse em filme ganharia Oscar com certeza.

Não bastando, porém, tão grandes confirmações do valor e importância de meus escritos, autografei em Porto Alegre, a pedido do seu Guilherme, pois eu não vi o homem, dois exemplares para gente bem famosa, um para o Chico Anysio, que estava em turnê pelo Rio Grande do Sul e visitou Hilel, e outro para o Jô Soares, para quem, entusiasmado, o Chico Anysio disse que entregaria quando fosse em seu programa já marcado. E enfatizou que era urgente que fôssemos entrevistados no programa do Jô

Portanto, embora não tive a honra de vê-los e cumprimentá-los pessoalmente, autografei para o Chico Anysio e para o Jô, sendo que o Chico entregou Os Meninos da Guerra ao vivo e no ar para o amigo no Programa do Jô em 2004, recomendando que logo nos convidasse para o programa.

Tenho para mim que a recomendação do Chico Anysio é uma boa credencial, haja vista sua inteligência, sucesso e reputação. Entretanto, ele não só fez elogios ao livro Os Meninos da Guerra em minha frente e na presença de meus amigos, mas o fez em rede nacional e para um personagem tão famoso e intelectual quanto ele, provendo-me tão mais excelente credenciai. Infelizmente, porém, Jô Soares não nos convidou para o seu programa.

Wilson do Amaral