Varal de humanos... Torna-se desumano!

Varal de humanos... Torna-se desumano!

Olho estes rostos perdidos de bochechas encostadas aos vidros, uma lateral gelada da paisagem que passa rápida lá fora, inda agora, borrões como seus sonhos...

Algumas bocas se movimentam. Agigantam-se. Riem. Declinam outros olhares, não os acho mais janelas da alma, os acho sim outdoors explícitos de seus desejos por vezes profanos como seus dentes amarelados pelo descuido ou pela insegurança presa da nicotina.

Como o menino, nariz afilado, olhos tristes, desce agora tendo seu baixo ventre armado evidenciado pela calça de agasalho escolar, a face corada e os olhos pudicos refletindo o medo da observância. Alguns olharem o flagram e seu semblante faz doer mais que a própria ereção, apertada, prisioneira, inexplicável, espontânea?! Não sei...

Um senhor mostra ao mundo sua nova descoberta, ferramenta zero bala como diz em alto som, fala de frangos, porcos e uma velha vaca adoentada. Como querendo alcançar a distância que lhe cerca grita segurando trêmulo o aparelho na mão grande e calejada.

O condutor além de fazer com que os passageiros sintam o valor da embreagem no veículo descumpre a primeira norma do condutor expressa em adesivo com letras garrafais: proibido conversar com o motorista. E assim me fazendo pensar em quantos acidentes são causados pela falta de atenção e começa e me bater um medinho danado, aquela insegurança neste caminho de vai e vem de todos os dias. Pereço neste caminho apócrifo, levado por vendedores disformes quais as figuras grotescas que surgem nos cantos escuros...

Braços amontoam-se em varais humanos, corpos que se negam ao encontro provocado pelo balanço da barca que viaja sobre o tapete negro, serpenteiam a terra, navega sobre suas patas circulares de borracha experimentando riscos, fissuras, arroubos de vidas agarradas...

Agarrada ao fruto, a velhas histórias contada em roda de fogueira e ela trigueira se aninha com olhos furtivos e não á exposição da bolsa de brilho falso que carrega sob o braço, entre costas e cotovelos.

Outra de cabelos chapinha mostra o mau trato do calor tentando mudar a genética, as pontas desapontam... Surradamente vestida de assistente administrativa, desvalorizada busca abraçar o ferro saído do chão.

Não muito distante da visão, um assovio, alguém acompanha o clássico da linha, a música é rápida, forte e ansiosa, há quem resmungue e quem ofereça sacudidelas de ombros, há quem sorria perdido a alguma lembrança na janela... Talvez sorria de seu próprio monstro...

A senhora que fala sobre trabalho, patroa doente e marido ruim, que bebe e a trata como escrava mostra que a calça jeans que veste além de ser menor para si é também de cós muito baixo, e o começo da vazão do glúteo maior fica à mostra, um senhor encarnando ao Belchior faz um sinal ao colega de que ali cabe a moeda que segura com o indicador e o polegar R$ 1,00.

Desejo não estar ali, penso na faculdade, na discussão da sala, também não queria aquilo, mas os gestos foram tão claros na hora do pequeno e atroz debate, onde a Ceyssa defendia tão arduamente ela sendo estado, amiga senhora massificada pelo dogmatismo infringido pela doutrinação e pelo trabalho que realiza onde ele o estado deveria fazer, crê que é estado, onde na verdade é apenas povo e tão somente povo. Nossa turma há um grupo muito infantil e eu hoje me portei como eles... Fui tão infantil quanto!

Resolvo me entregar a Morfeu e deixo-me ir... Novamente caminho entre eles, pendurados ali, vejo meu corpo, o cachecol cinza encostado ao vidro e minha cabeça sacolejando, passo por eles, percebo que alguns me sentem, sinto seus arrepios e sinto quando olham à procura de quem provocou o arrepio, o interessante que quando saiu não sou como meu corpo, minha forma é como antes, magro, esbelto, mas a minha barba parece mais comprida, mais branca, e minha trança pende em torno de mim como um colar de várias voltas. E quando penso na roupa me vejo com o traje branco de linho surrado, mais luminoso... Sorrio para mim mesmo na janela, venho a passos rápidos, já é chegada a hora de acordar este corpo doente e cansado, se eu fizesse medicina iria fazer em mim os reparos suficientes espiritualmente, tomaria dos conhecimentos terrenos para curar a mim...

Abro os olhos lembrando-se de todos os detalhes da caminhada pelo transporte coletivo, vi outros ali, eram apenas sombras, mas estavam ali, dois acompanhavam a mulher magra que me olhava com raiva no tubo e depois fez o mesmo na saída quando ancoramos no terminal...

Por Poetha Abilio Machado