A aflição de um garçom
Aprendi nos tempos de colégio a posição de cobrir. Era ato realizado nas manhãs de segunda-feira, ao cantar do Hino Nacional na formação antes de iniciar as aulas. E sempre ouvia da franciscana com celebre e bom tom espanhol, para calar os mais animados, “cheguem eim!”. Neste ato da posição de cobrir, percebo movimentar-se em frações de segundos, o agitado garçom do bar ao lado que vislumbro já inquieto com a insistente e teimosa chuvinha de entrada de noite de sábado. A semana já foi devagar aqui pelas bandas do turismo, e nada melhor que um fim de semana para tentar engordar o bolso com as comissões. Ele é insistente vai até o limite da proteção de lona, estica a mão, fica torcendo por alguns segundos, para que aquilo que lubrifica seu braço se transforme em passado, e com o ar seco da noite possa aquecer as mesas repletas de clientes a consumir. Mas, ele acredita, tem fé, e até penso que o “Pedrão” lá em cima ta observando ele, talvez até conheça a família dele e suas necessidades, pois depois da milionésima vez que ele galopa até o espaço limite, um gesto de alivio, o braço em posição de cobertura, aquele ato de cobrir, que me levou a ticar letras por aqui, volta seco, eita sô! E bastaram alguns minutos para que os automóveis fixos chamados de mesa, logo ganhassem ocupação total em seus assentos. E tenho certeza, que o bolso do labutante deste conto, vai permitir uma noite mais feliz.
Onofre Junior – Um sonhador