Na Padaria
Hoje eu acordei com a minha chatice exacerbada...
Quando cheguei à padaria, baixo a uma chuvinha renitente, não havia lugar para estacionar na frente do estabelecimento, e embiquei o carro na entrada do estacionamento anexo. Estacionei a 45 graus, e logo observei uma senhora que parava seu carro paralelo à calçada, bloqueando a saída do carro ao lado do meu.
Já fiquei indignado, e tive vontade de chamar a atenção da motorista. Mas ao vê-la sair do carro, vi que era uma senhora não idosa, mas pelo menos mais velha que eu, e a educação recebida de meus pais falou mais alto que a minha indignação e o meu espírito crítico, que condenou incontinenti aquele ato avesso à cidadania...
Entrei na padaria, comprei meu pão e meu leite e reencontrei a infratora no caixa, à minha frente na fila. Novamente tive ímpetos de dirigir-lhe a palavra, perguntando:
“A senhora tem idéia de como estacionou o seu carro?”
E novamente minha educação de berço falou mais alto, e calei-me.
Logo atrás dessa senhora, e à minha frente, estava outra mulher, uma loira, que àquela hora da manhã teve a audácia de pedir à moça do caixa um maço de cigarros...
Novamente, minha chatice gritou! Que vontade de dizer a ela o quanto cigarro faz mal à saúde! E outra vez ouvi a voz de minha mãe:
“Meu filho, seja educado!”
E a minha voz interior, meu bom-senso, talvez meu superego:
“Fique quieto, você não tem nada com isso! Os pulmões, a pele, a mucosa oral, a faringe a laringe e todo o resto, são dela! Desde que ela não fume perto de você...”
Eu tenho uma brincadeira com a moça do caixa, que há anos está naquele lugar às seis e meia da manhã, quando diariamente vou à padaria. Como nesse mesmo horário um funcionário de uma funerária também vai fazer suas compras, digo a ela que eles tem um convênio , ela vendendo cigarros para garantir a freguesia dele...
Aí não resisti: sem voz baixa, educadamente, disse a ela:
“Continua garantindo a freguesia do seu colega, hein!”
Ela deu uma risadinha e respondeu:
“É... precisamos manter o convênio!...”
A loira ficou sem entender nada, mas acho que enrubesceu.
Saí da padaria, parcialmente satisfeito em meu ataque que chatice, e vi a mulher saindo com seu carro do lugar em que erradamente estacionara. O senhor que havia estacionado a 45 graus ao lado do meu carro também saiu.
Fui para casa pensando em como estou chato hoje, logo de manhã... Afinal, esse tipo de coisa, estacionar em local proibido, principalmente em vagas para deficientes, grávidas e idosos é prática comum nos pátios de estacionamento dos hipermercados de nossa cidade... Avançar em faixa para pedestres, então... Quando é que as pessoas vão se conscientizar que se cada um fizer a sua parte é muito mais fácil conviver em sociedade?
Quanto a comprar cigarros e fumar, é problema de cada um... Só é insuportável ver a falta de respeito de alguns que insistem em fumar em restaurantes e outros locais fechados...
Mas serve de consolo a certeza que, enquanto nos países estrangeiros existe de maneira geral um grande e crescente respeito à cidadania, em muitos lugares do mundo fuma-se muito, muito mais que no Brasil!