BOMBA A BORDO

Hoje ouvi a notícia do avião que ia para a França, saiu do Rio de Janeiro e parou no Recife por causa de um aviso de bomba a bordo. Lembrei de situação semelhante, anos atrás, quando embarcamos em Roma com destino ao Brasil. Não sei se já lhes contei essa história. Depois que todos os passageiros estavam acomodados, quatro policiais entraram, cada qual trazendo um rapaz algemado. O Comandante os recebeu, foram lhes tiradas as algemas, e ele ficou com seus passaportes. Estavam sendo deportados. Motores ligados, a aeronave começou a andar lentamente para a pista de decolagem. De repente deu uma guinada, e o aviso veio pelo alto-falante: “Estamos com problemas técnicos, temos de voltar. Assim que pararmos, lasciate subito la nave. Deixem tudo a bordo, inclusive as bolsas de mão”. Foi o maior auê, todo mundo se levantou falando ao mesmo tempo. As expressões eram de grande apreensão. Será que é uma bomba? E se ela explodir agora?...

Minha filha, de oito anos na época, não teve dúvidas, embrenhou-se pelo meio dos adultos e foi abrindo caminho. Eu atrás dela, aflita. Meu marido e filho ficaram para trás. Do topo da escada pude ver inúmeros carros de bombeiros nos rodeando. Descemos correndo e a menina chorava de medo que o avião explodisse com o pai e o irmão lá dentro. Eu nada disse a ela, mas pensava que nós também morreríamos caso isto acontecesse, pois tudo ali nas redondezas iria também pelos ares...

A bomba não explodiu, felizmente. Passamos uma noite desconfortabilíssima jogados pelas poltronas do aeroporto, sem comida nem bebida. E com muita dificuldade de comunicação com o mundo, pois celulares ainda não existiam e os telefones públicos só funcionavam mediante a colocação de fichas, que não tínhamos e nem podíamos comprar àquelas horas. Tudo fechado.

Por sorte alguns jovens, de tanto fuçar, descobriram como chamar a Embratel. Todo mundo pôde telefonar a cobrar e avisar os parentes do atraso do voo. Mas não sabíamos a que horas sairíamos dali, muito menos quando chegaríamos. Chegamos em São Paulo umas dez horas depois do previsto.

Já em casa, vi que nossas malas continham um lacre da Polizia Italiana, sinal de que os ‘problemas técnicos’ não eram do avião. Nenhuma explicação nos foi dada pela Companhia Aérea e até hoje penso que pode muito bem ter sido um telefonema dos companheiros daqueles deportados, por vingança. Ou para que a confusão se instalasse e eles pudessem fugir...

Mas não puderam. Viajaram junto conosco e desceram no Rio de Janeiro.

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'lasciate subito la nave': abandonem imediatamente o avião