Um olhar da janela
Da janela num dia comum.
Era um dia comum destes tantos que nos acontecem por esta vida.
Dia em que pessoas comuns perambulam sem saber a que vão ou onde, apenas andam. Uma leve chuvinha umedecia os jardins depois de uma estiada longa de verão. Neste dia comum assim de minha janela me permiti levar pela observação. Observa-se tudo, pássaros urbanos, pessoas, coisas, maquinas, bailar de arvores e maquinas em movimentos. As pessoas caminham cuidadosas, escorregões são possíveis, não convém cair num dia desses, cuida-se, olha, observa o melhor trajeto, cuidado com as bocas de lobo, pois pode ser fatal.
O vento fazia trajetória sentido sul, carregando folhas, papeis e tudo que podia voar. Sacolas plásticas de supermercado às vezes subiam como se fossem pipas, mostrando a falta de educação no destino de lixo de gente que vive emporcalhando as grandes cidades, outros se alojavam nas grades de escoamento das águas pluviais impedindo o curso normal das águas, criando pequenas lagoas, que logo seriam imensas. Criando uma enorme e triste indignação em ver e sentir o comportamento dos humanos para com seu meio.
Mais distante um pouco, o mesmo vento causava horrores às mulheres, numa insistência tarada de lhes arrebatar os vestidos. Uma luta se observava daquela mulher segurando sua sombrinha, que protegia da chuva, naquele instante tomadas de decisões eram precisas imediatas, como segurar a sacola de compras, a sobrinha que insistia em voar bem como o vestido que cismava em subir corpo acima. Uma luta desigual enfrentava aquela mulher. Na esquina os motoristas de Taxi, observavam e sonhavam com a vitoria do vento sobre aquele vestido. Sonhos e fantasias de um dia comum. E a mulher rodava como regravando Cantando na Chuva, luta desigual, situações inusitadas de um dia de vento e chuva na cidade.
.
Era sim um dia comum, onde pessoas comuns fazem coisas comuns.
Por muito tempo assim fiquei, na minha base de observação, abrigado da chuva e do vento. Era um rei absoluto na minha posição, onde extraia do dia as mais estranhas emoções e reações da vida humana. A vida às vezes nos proporciona momentos assim, de pura inatividade, de ociosidade e ficamos a observar o movimento do mundo.
Foi então que percebi, que de tanto observar, acabei sendo observado.
Assim diria o grande poeta Drummond: “Eta vida besta!
Toninhobira
11/07/2010