Moça de família - Crônicas curtas -
Há muito tempo que entre eles não havia mais clima. Para falar a verdade, mais da parte dele. Pensou em terminar, mas não sabia como. O relacionamento estava sério, não dava para negar. Dizia aos amigos que não era ela, mas sim o que ela fazia. Era uma pessoa maravilhosa, muito querida por todos, inclusive pela família dele, para seu desespero.
Dia desses voltando do trabalho, viu o carro da mãe dela estacionado em frente a sua casa. Rapidamente fez a volta e só apareceu em casa no outro dia. Imaginou mil coisas. Alarme falso. Era apenas a mãe dela combinando um jantar entre família, novamente para seu desespero.
Pensou em várias formas de terminar. Pelo telefone, carta, olhando na cara (essa só em último caso), mas o grande problema seria enfrentar os outros.
Ela era muito querida, linda, caprichosa, carinhosa, era moça de
família...Mas não dava certo!
Bolou um plano. Espalharia um boato sobre a namorada. Algo que ferisse o sentimentos de todos, inclusive o dele.
E foi conversar com o pai dela:
-Olha seu Juvenal, quem diria hein? Justo a sua filha me fazer uma coisa dessas. Por essa eu não esperava, ela uma moça de família! Estou desapontado. Passar bem!
E saiu como um pobre coitado, desiludido, arrasado. Aguardava o resultado desse conto maquiavélico.
Não se falava em outra coisa na vizinhança. O comentário era geral. Quem diria, a Candinha fazer uma coisas dessas, justo ela, uma moça de família. E na rua todos viravam a cara para a pobre coitada. Passava a noite toda chorando e o dia tentando desinchar a cara de choro da noite passada. Pasqualzinho estava solto, livre finalmente. Saia quase toda noite. Era festa e mais festa. E foi assim durante quase dois meses. Um dia encontrou a Candinha na rua que lhe pediu pelo menos uma última chance, que ligasse outra hora para conversarem. Pasqualzinho que já estava cansado de tanto aprontar pensou no assunto. Chegou em casa pegou o telefone e quando faltava discar o último número, pensou:
Não, não, depois de tudo o que ela me fez! Eu mereço uma moça de família...
Fabiano Freitas