Cada etapa da nossa vida é um aprendizado, podemos ter trinta ou quarenta anos, mais quem sabe, cada aprendizado é único, criamos expectativas ao novo, mas quando ele chega nós não sabemos como lidar, não assimilamos de imediato os acontecimentos então nos “enrolamos “ nas prévias, ah esse novo! Fascina e assusta.
Minha filha, já prestes a ir para a maternidade, pessoas curiosas circulando ao meu redor, expectativa total... Eu ali, pasma, como se eu fosse a mulher a dar a luz.. Ouvia todos as “buzinas” ao meu ouvido:
- Aí vovó! Vai ser vovó! Isso tudo entre risos e piadinhas.
Eram três horas da tarde, lá vou eu acompanhar minha filha a maternidade, seu trabalho de parto começara às três horas da madrugada. Passado todos os tramites da burocracia lá estávamos, eu e ela na sala de pré parto, conforme as contrações aumentavam eu ali ao lado da cama ia me sentindo cada vez mais impotente diante do seu sofrimento. Relembrei cada momento em que senti estas mesmas dores, revivi cada segundo, enfim, pari minhas dores, todas e de uma só vez..
Entre os ais de minha filha e um segundo de calmaria nasciam em mim novos cabelos brancos, preocupações, alegrias e expectativas.
Já passava das vinte e três horas quando as contrações ficaram violentas, já com oito centímetros de dilatação minha filha esforçava-se para expelir o feto, foram momentos em que eu desejaria não estar ali, não precisar vê-la sofrendo daquela maneira, e comecei a me questionar sobre tantas coisas desta vida...
Acompanhei todo o trabalho, parto normal, (queria descobrir quem deu este nome; Não tem nada de “normal” em um trabalho de parto!) enfim as zero hora e quatro minutos nasceu meu netinho, chorava como se estivesse apanhando, com cinqüenta e um centímetros e três quilos e oitocentas gramas, diria que é um menino grande, sadio e tem um semblante sereno, transmite uma paz, desconfio ser ele uma alma antiga. Ali, na mesa de parto minha filha deixava escorrer uma lágrima silenciosa e após algum tempo bradava:
- Meu filho! Meu Filho!
Deixei a sala para que o pai da criança pudesse entrar. Sai a esmo pelo corredor, tentando assimilar cada emoção sentida, com os olhos no futuro vi meu neto andando, indo a escola, os trabalhos extras que minha filha terá em casa... - Enfim, tudo é novo!
No dia seguinte todos me cumprimentavam alegre e sinceramente. Meu amigo! Que respondo nesta hora? Paro e fico a questionar se todas as avós ficam assim no primeiro dia desta nova experiência de vida. A palavra vovó soa distante, o cérebro não assimila você se questiona: O que é ser vovó?
Ainda não sei! Ouvi dizer que tenho que andar com balas na bolsa, levar o netinho para passear, ajudar no banho e trocar fraldas. Sei não!
Falo do que sinto agora, é um transbordamento sem fim, uma emoção nunca sentida, tudo é novo, do choro do filho que é minha extensão sem ser meu filho, das dores que sinto mesmo não sendo mãe deste bebe, deste amor que está florindo em meu peito...
Ah! Quer saber?
Felicita-me, mas não me chames de vovó, não ainda!
Com o passar das horas, dos dias, eu saberei qual o significado desta palavra, desta função, ou seja, deste aprendizado, esta nova fase de minha vida aí poderei assentir e consentir, mas antes preciso ter consciência do meu próprio estágio.
Por hora apenas compartilhem comigo desta felicidade, agarrem-se as minhas asas e alçaremos vôo neste novo mundo chamado “os filhos dos teus filhos”, com o tempo e a tempo eu despertarei desta inércia para pousar no paraíso chamado vovó e contar-lhe-eis belas histórias ainda que estas venham a se passar em noites de insônia, entre choros e lamentos, ainda assim haverá um que de elevação.
Sei que haverá um dia em que um ser pequenino pronunciará a palavra vovó e aí, só aí e que saberei o verdadeiro sentido, só então sentirei a verdadeira emoção, pois está é uma palavra especial, uma palavra para ser dita por uma criança, a mesma que irá me conduzir a cada novo passo trilhado nesta nova jornada de vida. E lhes digo de véspera:
- Será uma experiência e tanto! Desejem-me sorte!
Que Deus estaja conosco em cada momento, que tenhamos dias felizes e belas histórias para contar.
* A foto é do meu neto, Grégory! *
khayssa
10/07/2010