NO TOPO
Nos fins de todas as tardes dirigia-se sempre até o mesmo banco da praça. Sentava e ficava olhando para cima: o topo daquele prédio; sonhava estar lá.
Queria conquistar o topo da montanha, usar gravata; mandar e desmandar; comprar uma mansão. Todo dia sonhava ao sentar no mesmo banco e observar o topo do grande prédio!
Certa tarde chegou mais cedo: tinham mandado alguns garis embora – ele estava no meio. Ficou triste e nem demorou muito no banco, logo foi embora.
No outro dia, pela manhã, sentou no mesmo banco. Olhou atentamente para o topo do prédio. Lentamente desceu o olhar até deparar com uma placa: “Precisa-se de office-boy”.
Levantou-se, tomou coragem e entrou no prédio. Conseguiu o emprego. Ficou por dentro de todos os assuntos da empresa; foi competente, subiram-no de cargo. Passou a ser secretário, depois administrador.
E, de repente, bateu na porta de sua sala uma senhora: solicitava aumento – ele tinha que resolver, trazia em sua mesa uma pequena placa de administrador, gerente. Sentiu que ela queria chegar também ao topo, logo a despachou.
No outro mês se viu apertado por uma gravata, sentado em uma cadeira de espuma forrada por um pano de veludo vermelho, com uma nova placa na mesa: Diretor-Sócio-Proprietário. Vê só na sala. Vai embora. Todos o adoram e o respeitam para que não os mandem embora.
Sua casa é muito grande. Não consegue enxergar o fim, ouve apenas e tão somente os ecos de seus passos. Volta à empresa, senta na cadeira, solta o nó da gravata. Já é fim de tarde, olha da janela para o banco onde tempos atrás estivera sentado: uma senhora está olhando para cima. Será que ela quer chegar ao topo, por que ele quer descer – e ser feliz de novo só olhando para cima.
24 de Janeiro de 2003.