NO PARQUINHO

Ao lado da Catedral havia um terreno que se estendia até o muro do nosso quintal. Era ali que todo ano montavam um parquinho de diversões, o que muito nos divertia durante a temporada.

Lá de dentro de casa ouvíamos a música tocando alto: Maringá, Maringá, depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste... Sabíamos que a função ia começar.

Uma voz ao microfone chamava as pessoas. E também transmitia recados de Fulano para Fulana, com muito amor, “Querida, eu te amo. Não me deixe aqui sofrendo”. “Moreno, você me deixa louca. Sua florzinha te espera na porta da Leiteria Cristal”.

Quase todas as noites dávamos um jeitinho de arranjar um adulto disposto a nos acompanhar e lá íamos nós. Eu me animava com aquela movimentação. Quantas barracas para olhar! A das argolas, do tiro ao alvo, de sorteio de números, da maçã do amor... Gente fazendo fila para ganhar alguma coisa. Todos rindo, atirando com espingardas, lançando argolas, mordendo a maçã.

E a música tocando alto, oferecida pelo garboso moreno à faceira caipirinha. “Quando amanhece o dia no meu rincão... és o maior enlevo da minha vida... Tu não te lembras da casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu... Não há ó gente ó não luar como esse do sertão... Quero beijar-te as mãos minha querida...”

Mas o melhor mesmo eram os brinquedos. Eu adorava a roda-gigante. Achava bonito ver tudo lá de cima. Só vacilava um pouco quando minha cadeirinha parava, porque alguém ia subir ou descer. Na barquinha eu puxava a corda com força, para balançar bem forte. Embora sentisse frio na barriga, era muito bom. Eu não queria mais parar.

Mas tinha que ir embora, criança não ficava acordada até tarde.

Então eu dormia ao som da “índia da pele morena, da boca pequena... Indiaaaaa...”