Só um dedo de prosa e uma lágrima
de Edson Gonçalves Ferreira
para Manoel e José Gomes Gonçalves
(in memorian)
As tardes eram assim: todas floridas pelo sorriso de um menino franzino, de cabelo em franja que, apressado,
magrinho, corria ao encontro de seu avô que, então, parava
de trabalhar na Rede Mineira de Viação. O vento fazia
poemas líricos nos fios do cabelo do garoto que não media sonhos para se encontrar o velho portuga.
Ainda não soaram as cinco badaladas do relógio do Santuário quando, respirando apressado, o garoto pulava
no colo do avô Manoel que, com cara de lua cheia, o esperava,
ao lado do seu irmão José, tio-avô do menino, nas escadarias
do Santuário de Santo Antônio, em Divinópolis, Minas Gerais.
Enquanto os dois irmãos conversavam, o menino
brincava no meio das pernas do avô e do tio, buscando o aconchego que, naquela época risonha, era tão ditoso.
Os dois traziam balas e doce na palha no bolso. Só que não entregavam, deixavam o garoto procurar.
O olhar do menino magrinho e de franja na testa era
suave, meigo, mas forte, tão forte que, às vezes, o seu avô perguntava: __ O que estás a olhar de forma tão firme? E, depressa, o garoto respondia: _ Estou a olhar o senhor,
vôvô, me parece tão cansado. Aí, o velho se enchia de
orgulho e o pegava no colo.
Vovô Manoel Gomes Gonçalves, meu portuga querido
Até hoje, não consigo lembrar quantas vezes durou
esse tempo doirado, porque, uma manhã, enquanto o menino brincava de dentista, sua prima chegou, contando que seu avô tinha partido. O desespero tomou conta do menino que, chorando, gritava: _ Quero o meu avô de volta, Deus!
Onde está o meu portuga, mamãe, onde está?
Divinópolis, 23.03.2010
de Edson Gonçalves Ferreira
para Manoel e José Gomes Gonçalves
(in memorian)
As tardes eram assim: todas floridas pelo sorriso de um menino franzino, de cabelo em franja que, apressado,
magrinho, corria ao encontro de seu avô que, então, parava
de trabalhar na Rede Mineira de Viação. O vento fazia
poemas líricos nos fios do cabelo do garoto que não media sonhos para se encontrar o velho portuga.
Ainda não soaram as cinco badaladas do relógio do Santuário quando, respirando apressado, o garoto pulava
no colo do avô Manoel que, com cara de lua cheia, o esperava,
ao lado do seu irmão José, tio-avô do menino, nas escadarias
do Santuário de Santo Antônio, em Divinópolis, Minas Gerais.
Enquanto os dois irmãos conversavam, o menino
brincava no meio das pernas do avô e do tio, buscando o aconchego que, naquela época risonha, era tão ditoso.
Os dois traziam balas e doce na palha no bolso. Só que não entregavam, deixavam o garoto procurar.
O olhar do menino magrinho e de franja na testa era
suave, meigo, mas forte, tão forte que, às vezes, o seu avô perguntava: __ O que estás a olhar de forma tão firme? E, depressa, o garoto respondia: _ Estou a olhar o senhor,
vôvô, me parece tão cansado. Aí, o velho se enchia de
orgulho e o pegava no colo.
Vovô Manoel Gomes Gonçalves, meu portuga querido
Até hoje, não consigo lembrar quantas vezes durou
esse tempo doirado, porque, uma manhã, enquanto o menino brincava de dentista, sua prima chegou, contando que seu avô tinha partido. O desespero tomou conta do menino que, chorando, gritava: _ Quero o meu avô de volta, Deus!
Onde está o meu portuga, mamãe, onde está?
Divinópolis, 23.03.2010