DOR DE BARRIGA
"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa,
ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente.
Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse?
Mas a gente nunca conhece." (Bukowski)
Um pouco mais de solidão e eu estaria plenamente feliz! É triste o sentimento desprezado. Só queremos alguém 'nos' fazendo carinho porque 'nós' não aturamos 'a gente' mesmo. Por isso passamos a bola para quem nos faz perder a cabeça. A paixão me torna tão egoísta, tanto quanto o ódio me torna tão perverso. Me faz passar a noite toda acordado pensando nela e no porquê do pé na bunda... Se vê que de fato, dou meus créditos à rejeição, só no desprezo o homem perde um pouco do seu narcisismo, seu egoísmo, e tem a plena certeza de que é plenamente a porcaria que ele nunca quis ser. A imperfeição em pessoa. Logo a mim que jurei todo o meu amor, que me dei e me doei de corpo e alma, como dizem os cafonas. Que deixei de me amar para amá-la.
Quando amamos alguém perdemos a metade daquilo que se chama amor próprio. Caso contrário, essa não seria a praga do amor. Estou aqui agora sem solidão, pois estou atormentado pelo sofrimento.
Certo foi Raul seixas quando cantou: “é pena que você pense que eu sou seu escravo [...] pois quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo/ hoje eu sei, que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez”.
E assim, já não bastavam as dívidas, a reprovação na aula, um pai e uma mãe doentes, a dor de não ter a pessoa amada, tendo que jogar meu carinho no ralo do banheiro...
Quando saio e me sento è mesa de um barzinho indo beber e ouvir Caetano, Raul, Gal, Cazuza... o filha da puta do cozinheiro não lava bem as mãos e o alimento, me traz um petisco cheio de germes. Como tudo. Passam-se 40 minutinhos, até que me vem uma dor de barriga infeliz. Deixo a grana da conta em cima da mesa por baixo da garrafa de cerveja, saio correndo pra casa. O bar era pertinho. Saio correndo daquele jeito, prendendo as pernas, andando como se fosse um maratonista de marcha atlética, a merda começa a cair, três vira-latas na rua começam a latir correndo atrás de mim, mais merda caindo, chego em casa já com o fundo das calças todo cagado... pior, é nessa hora que nunca acertamos a chave certa e quando acertamos, a droga do trinco não abre. Sei que entrei e logo me sentei no trono despejando tudo. Olhando assim desprezados o mijo e a merda do meu cachorrinho ao lado da porta do banheiro. Foi a madrugada toda assim: quando pensava em me deitar, vinha a dor de barriga e o trono me esperava. Como isso, constatei o seguinte:
O amor é igual à caganeira, nos faz passar a noite toda pensando e sofrendo por ela, dormindo e acordando em dez e dez minutos.
Ora, há momentos em que não é necessário falar sobre flores ou alma para saber o significado do amor”