FEMINISMO E MPB

Muita coisa no comportamento de homens e mulheres mudou definitivamente com o movimento feminista que ganhou força avassaladora a partir dos anos sessenta do século passado. Vou me ater à música para ilustrar os momentos mais marcantes da mudança da condição da mulher objeto para a mulher agente.

AI , QUE SAUDADES DA AMÉLIA, o famoso hino machista de Ataulfo Alves foi a primeira a cair em desgraça no gosto das novas “sem sutiã” da praça. Virou um inimigo poderoso, combatido em todas as frentes de audição. Já vi muita mulher quebrar vitrolas antigas por causa dela. Ela era o alvo preferido e considerada tão machista que outras acabaram ficando no esquecimento da perseguição. Tivemos por exemplo, o Agepê, que cantava JEITO DE FELICIDADE. Coisa impensável hoje em dia:

“Acorda amor, já é hora de fazer o café

Sabe como é que é

Eu tenho que pegar o trem das seis

Senão não chego as sete lá

Eu já falei pra você

Deixar de assistir a novela das dez

Esquece de lembrar do compromisso

Quem não tem nada com isso

Fica sem café”,

Até o Chico Buarque, considerado o alter ego feminino deu a sua derrapada em FEIJOADA COMPLETA. Não estou defendendo-o, mas acho que ele queria era falar de uma festa regada a uma boa feijoada. Ocorre que acabou colocando a mulher sozinha para fazer tudo e ele só entrou com os amigos e a bebedeira e ainda por cima, sem aviso prévio, mandando botar mais água no feijão. Fazia-me lembrar das raivas que a minha mãe tinha quando meu pai chegava meio tonto aos domingos levando um amigo para o almoço depois que todo mundo em casa já havia comido e lavado as louças.

“Mulher, você vai gostar

Tô levando uns amigos pra conversar

Eles vão com uma fome que nem me contem

Ele vão com uma sede de anteontem

Bota a cerveja estupidamente gelada prum batalhão

E vamos botar água no feijão...”

E o triunfo feminino veio com os próprios homens, alguns interpretando o momento de poder feminino com classe, feito Ivan Lins em BILHETE, se bem que serve para ambos os sexos, mas as mulheres se apropriaram dela primeiro. Fafá de Belém foi rápida no gatilho e gravou:

“Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto

Bebi teu licor

Arrumei a sala, já fiz tua mala

Pus no corredor

Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo

Te tirei das entranhas

Fiz um tipo de aborto

E por fim nosso caso acabou, está morto

Jogue a cópia da chave por debaixo da porta

Que é pra não ter motivo

De pensar numa volta

Fique junto dos teus

Boa sorte, adeus”

E também uns com menos recursos argumentativos ou se sentindo derrotados, fizeram músicas que são chamadas “de corno”. Será que foi vingança delas? Olhem o hino deles com o Reginaldo Rossi:

“Garçom! Aqui!

Nessa mesa de bar

Você já cansou de escutar

Centenas de casos de amor...

Garçom!

No bar todo mundo é igual

Meu caso é mais um, é banal

Mas preste atenção por favor...

Saiba que o meu grande amor

Hoje vai se casar

Mandou uma carta pra me avisar

Deixou em pedaços meu coração...”

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 09/07/2010
Código do texto: T2367015
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