Uma história
Como quem nada quisesse ele me contou sua historia. E nada queria mesmo aquele rapaz. Nada pediu nem nada cobrou, só me contou o que contou pela simples e mais humana necessidade de ser ouvido.
Seu pai estava doente. Nada havia no mundo que o pudesse salvar do destino certo da morte, que a todos atordoa e a todos assalta.
Um câncer fulminante em seu fígado tinha se espalhado e tomado o corpo todo do velho, sem ao menos dar chance a nossa mundana medicina para contra atacar. O velho, em algumas semanas, estava à morte.
Nem mesmo a força admirável dos seus ancestrais, primeiros a lavrar a terra nesse país colonial, foi capaz de deter por algum tempo a doença, que escolheu o velho como alvo para sedimentar sua fama de diabólica.
Mas ainda que não houvesse esperanças de cura, a dor que atacava o velho era por demais intensa que se tornava insuportável ao mais forte dos homens. E o necessário tratamento, ainda que apenas paliativo, tinha que ser proporcionado ao doente. Era à base de pura morfina que o velho estava se mantendo vivo.
Como olhar para seu pai, herói de todos seus momentos de juventude, e avisá-lo que seu fim está chegando, e nada há que se possa fazer? Como fazer sua mãe entender que seu companheiro de décadas em pouco não mais estará com ela? Como fazer entender a si mesmo que seu pai logo estará morto?
Tudo isso teve que fazer aquele rapaz, sentado ao meu lado devorando com apetite sua marmita, como tantas vezes fizera seu pai em seus anos de trabalho. E mais, contou-me, a família gastava com o tratamento, os remédios e as viagens à capital um dinheiro que simplesmente não tinha. Tudo para ver, dentro em pouco, seu querido pai estirado frio entre flores mortas.
Não escrevo essas linhas para passar alguma mensagem ao leitor, ainda que tal mensagem esteja clara nas linhas que se escorrem por essas paginas. Queria apenas dar vazão a um sentimento muito forte que nasceu em mim desde tal conversa.
E como, leitor, ouvir uma historia assim e se sentar na frente do papel sem manchá-lo de lágrimas?
Como quem nada quisesse ele me contou sua historia. E nada queria mesmo aquele rapaz. Nada pediu nem nada cobrou, só me contou o que contou pela simples e mais humana necessidade de ser ouvido.
Seu pai estava doente. Nada havia no mundo que o pudesse salvar do destino certo da morte, que a todos atordoa e a todos assalta.
Um câncer fulminante em seu fígado tinha se espalhado e tomado o corpo todo do velho, sem ao menos dar chance a nossa mundana medicina para contra atacar. O velho, em algumas semanas, estava à morte.
Nem mesmo a força admirável dos seus ancestrais, primeiros a lavrar a terra nesse país colonial, foi capaz de deter por algum tempo a doença, que escolheu o velho como alvo para sedimentar sua fama de diabólica.
Mas ainda que não houvesse esperanças de cura, a dor que atacava o velho era por demais intensa que se tornava insuportável ao mais forte dos homens. E o necessário tratamento, ainda que apenas paliativo, tinha que ser proporcionado ao doente. Era à base de pura morfina que o velho estava se mantendo vivo.
Como olhar para seu pai, herói de todos seus momentos de juventude, e avisá-lo que seu fim está chegando, e nada há que se possa fazer? Como fazer sua mãe entender que seu companheiro de décadas em pouco não mais estará com ela? Como fazer entender a si mesmo que seu pai logo estará morto?
Tudo isso teve que fazer aquele rapaz, sentado ao meu lado devorando com apetite sua marmita, como tantas vezes fizera seu pai em seus anos de trabalho. E mais, contou-me, a família gastava com o tratamento, os remédios e as viagens à capital um dinheiro que simplesmente não tinha. Tudo para ver, dentro em pouco, seu querido pai estirado frio entre flores mortas.
Não escrevo essas linhas para passar alguma mensagem ao leitor, ainda que tal mensagem esteja clara nas linhas que se escorrem por essas paginas. Queria apenas dar vazão a um sentimento muito forte que nasceu em mim desde tal conversa.
E como, leitor, ouvir uma historia assim e se sentar na frente do papel sem manchá-lo de lágrimas?