A MESA
A mesa é uma peça muito importante na nossa vida. É ao redor da mesa que as famílias se reúnem para as refeições. Foi ao redor de uma mesa que Cristo reuniu seus apóstolos para a última ceia quando “tomou o pão, benzeu – o, parti- o e deu aos seus discípulos dizendo: Tomai todos e comei, isto é meu corpo que será entregue para vós.’ Ao redor de uma mesa se resolve os grandes problemas da nação e dizem que é ao redor de uma mesa de bar que amizades são feitas e muitas mágoas são afogadas.
Toda casa tem uma mesa. As mesas mudam seu estilo no passar dos anos. Modernamente as mesas têm lindos designe podendo ser de vidro, granito ou madeira. Antigamente predomina as mesas de madeira. Quanto mais pesada mais bonita e valorizada era.
Lembro que na minha casa tinha uma mesa quadrada de madeira de cor escura. Não era como as mesas modernas que tem quatro pés. Havia nela uma peça de madeira ao centro larga que a conduzia até ao chão. Esta peça era circundada de uma madeira no mesmo formato do tampão da mesa com uns quarenta centímetros de largura. Suas cadeiras tinham assento e espaldar de palhinha. Ao conjunto também acompanhava um móvel semelhante a uma cristaleira, porém com mais madeira que vidro. Era chamado de guarda – louça.
Anualmente estes móveis eram reparados. As madeiras eram envernizadas e as palhinhas eram substituídas. O pé da mesa era um problema. Mantê-lo sem raladura era um desafio. Pois todo mundo que lá sentava inconscientemente colocam seus pés em cima da peça e ficava a arrastar o sapato pra lá e pra cá.
A D. Aninha uma vizinha e grande amiga era especialista em fazer essa desfeita. Quando os móvies chegavam da oficina a presença da senhora não era bem - vinda. Não tinha como deixá-la longe da mesa porque o cafezinho do final da tarde com tapioca, cuscuz e bolo frito era servido nela.
Ninguém ousava adverti-la que os móvies estavam polidos, que aquela peça da mesa não era porta pé e sim adorno para embelezá-la. Eu e minhas irmãs insinuávamos informar a D. Aninha que o móvel tinha acabado de ser envernizado. Nossos pais davam ordem expressa para não tomarmos tal atitude. Isso era desconsideração. Falta de respeito. A vizinha e amiga era pessoa especial. Qualquer reclamação desta natureza poderia magoá - la.
Pronto. Chegou a hora do cafezinho. Mesa polida e D. Aninha adentra. Toma assento à mesa. Todos nós de olho em seus pés. Ficávamos nos entreolhando entre risos. Bastou o olhar severo de nossa mãe para que a gente mudasse de atitude. Não teve outra. A senhora senta à mesa e põe imediatamente seus pés no suporte. Lá vai o verniz. O primeiro arranhão já se foi. Pés pra lá, pés pra cá e todos os corações batendo.
De repente D. Aninha se levanta e apressa - se para ir embora. Mamãe insiste para repetir a xícara de café como fazia sempre. Ela se nega apesar de reconhecer que o bolo estava ótimo. Agradece porque sabia que ele tinha sido feito especialmente para ela. Era o seu bolo predileto. Alegou uma coisa qualquer e foi - se.
No outro dia não veio para o café, nem no outro e nem no outro. O pé da mesa novinho em folha. A pequena raladura provocada pelo sapato da vizinha saiu com um pouquinho de lustra móveis.
A ausência da vizinha era integrante. Em casa todos tinham consciência que ninguém falou nada pra ela a respeito da mesa em sua última visita. De qualquer forma fomos investigados um a um. Alguém reclamou alguma coisa para D. Aninha? A resposta era sempre negativa.
Depois de quase um mês, ao folhear o caderno de uma das minhas irmãs, minha mãe encontrou escrito com letras garrafas. TIRE O PÉ DA MESA ELA FOI ENVERNIZADA. Enquanto a senhora tomava café a folha de papel foi colocada discretamente a sua vista. Daí seu desconcerto e sua pressa naquele dia.
A autora do ato jura que nunca mentiu. Dizer, dizer mesmo não disse nada. Apenas escreveu no papel. D. Aninha voltou a nos freqüentas depois de algum tempo, mas, não para o cafezinho, agora só sentava no sofá.