E vivam os cães!

Muitas coisas me encantam e, uma delas é ver sempre pelas manhãs, homens, mulheres, adolescentes e até crianças, passeando com seus cães pelas calçadas de nossa cidade.

É “maravilhoso”, principalmente, quando os cães param pra fazer cocô na calçada de outras pessoas!

Me “encanta” ver seus donos caminharem, atrás ou à frente deles, indiferentes, com o olhar perdido no espaço, sabe-se lá pensando o quê, e outros, mais sensíveis, olhando-os embevecidos pelo “momento poético” da saída de seus restos fecais.

Dia desses, exatamente num desses momentos de "poesia máxima" do cão, abordei, educadamente, a pessoa que o acompanhava e perguntei a ela se o cão sempre agia daquela maneira.

- Sempre, sempre! – respondeu ela toda animada – Sabe, na minha casa o quintal é tão pequeno que não posso deixá-lo fazer cocô lá. Então saio pra rua e ele faz onde quer. Já sei até o horário e procuro sair com ele exatamente quando percebo que vai fazer cocô.

- E não se importa que ele faça na calçada dos outros?

- Me importar? Claro que não! Todo cachorro faz isso.

- Mas, não acha que isso é uma agressão às pessoas?

- E cachorro entende isso?

- Mas por que ele não faz na sua calçada?

- Ora, porque saio logo a passear com ele e não dá tempo.

- E acha certo deixá-lo fazer cocô na calçada dos outros?

- No meio da rua é que não vai fazer. Além disso pago meus impostos em dia.

- Paga seus impostos para o cão fazer cocô na calçada dos outros?

- Pra que existe serviço de Limpeza Pública? Pra limpar! E cachorros não tem banheiros, tem? E quer saber de uma coisa? Ele vai fazer cocô onde quiser. Afinal de contas é um animal irracional e não tem obrigação nenhuma de saber se o lugar que escolhe é certo ou não.

Diante de argumentos tão “brilhantes” só me restou curvar-me diante dela. Ali estava uma pessoa “maravilhosa” da qual não me esqueceria jamais.

E vivam os cães!

E vivam seus donos “sensíveis e racionais” que sempre os levam para fazer cocô na calçada dos outros!

Do Livro: “Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas” – Pág. 44