RECORDAR É PRECISO...
Estava eu procurando uns documentos, no meu “arquivo morto”, quando encontro uma caixa amarelada pelo tempo, desgastada e envolta por uma fita amarela terminando num bonito laço, com uma etiqueta com o nome de um colégio, ano e escrito em letras maiúsculas SAUDADES.
Ao abrir a caixa, entendi porque a palavra saudades se destacando... Meu coração ficou apertado, meus pensamentos voaram para um passado não muito distante, mas muito feliz da minha vida.
Transportei-me para o tempo de colégio, onde os sonhos eram muitos... as paqueras, as confusões no pátio do ginásio. As longas conversas sobre o futuro, os desejos, os ideais de uma juventude tranquila, sadia... Onde a maior preocupação eram as boas notas, as atenções do menino mais bonito da turma, e o que vestir para a festa de aniversário de alguma das companheiras.
Que saudades....
Saiamos arrumadinhas de casa, com o uniforme impecável; blusa branca com um lencinho ensaiando uma gravata, a saia preguiada e abaixo dos joelhos, meias brancas ¾ e sapatos pretos.
Rosto limpo, cabelos bem penteados... comportadíssimas. Isso até que nosso grupo se reunisse, pois, aí subia se a saia, enrolando a na cintura, deixando um palmo acima dos joelhos a mostra. A blusa branca, com as pontas dava um nó, marcando a cintura. Um leve e delicado batom clarinho nos lábios, cabelos longos jogados de lado e convencidas estávamos da sensualidade exposta, bem na moda, modernas... narizinhos empinados.
Puxa, éramos as tais.
Eu sempre fui boa aluna, comportada, compenetrada, estudiosa... Mas sempre distribuindo simpatia e alegria as minhas companheiras e sempre tive transito livre entre professores e diretores. Sempre debatia com eles, fosse pela matéria estudada ou por assuntos aleatórios.
Gozava de algumas regalias e confiança de ambas as partes.
Nos momentos que nos davam liberdade, sempre estava a brincar, a contar coisas engraçadas, a cantar e declamar e a imitar pessoas famosas e os próprios professores.
E sempre tive a facilidade de fazer com que rissem e se divertissem... Acho que gostavam muito desse meu jeito... pois, mesmo entre os professores, era requisitada.
Mas, de repente, acho um bloco de poesias, nessa caixa envelhecida de saudades e juventude.
Ah! Eram meus versinhos... Que agora lendo, provocam as lágrimas e as deixo cair livremente, por coincidência ouço tocar uma musica antiga com Roberto Carlos...
Folheando o bloco revejo escritos, enquanto como um filme passam as imagens do tempo desses versos, muitos... a maioria feitos por mim... Poesias infantis, muitas já nem reconheço mais... Nem acredito ter escrito tais coisas.
Cai uma folha, reconheço nela minha letra juvenil. Com uns versinhos singelos;
Aluga-se um coração,
A um rapaz bem educado,
Que seja bem bonitinho
E muito bem acabado.
Contrato e fiador,
Pagamento adiantado
E como prova de amor,
Um beijinho bem dado.
Lágrimas e risos... não consigo conter... Fui eu mesma que fiz isso? ... E assim me deixei ficar, esquecida da hora, do presente urgente com coisas a resolver... Não sei quanto tempo passou.
Sei que minha mente buscava o momento em que fiz meu verso. Minha memória ingrata se recusou a cooperar comigo... Quando e a quem dediquei esse mimo? Não sei.
Guardo-o junto com tantas recordações, se for meu... Ótimo. Se não for... Tomei-o sob guarda e custódia e o tenho aqui no fundo do coração... Protegido na minha caixinha não mais empoeirada, ainda com um lindo laço amarelo com uma etiqueta dourada chamada Juventude!
Recordar é preciso....