QUE NÃO ME DESMINTA O ESPELHO
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
(Fernando Pessoa)
Não, não foi um adeus desses que acontecem na beira de um cais, com sol se pondo, gaivotas regressando e um ser partindo. Foi um adeus pensado entre quatro paredes, um adeus diferente, sem testemunhas. Um adeus a uma parte de mim, a que “delira” , dando lugar a que “ pesa e “pondera”. Para que eu possa sem “estranheza” ou “solidão” ressurgir e conviver com os meus sentimentos, sem direcioná-los ou deles outros querer convencer. Que haja em mim firmeza de propósitos e que não me desminta o espelho, que já não reflete olhares perdidos, sorrisos não contidos, não enigmáticos, não Mona Lisa. Apenas o que sou/ estou/ agora.
Em consonância com os versos de Fernando Pessoa, que venha Ferreira Gullar com o seu “Traduzir-se”
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
(Fernando Pessoa)
Não, não foi um adeus desses que acontecem na beira de um cais, com sol se pondo, gaivotas regressando e um ser partindo. Foi um adeus pensado entre quatro paredes, um adeus diferente, sem testemunhas. Um adeus a uma parte de mim, a que “delira” , dando lugar a que “ pesa e “pondera”. Para que eu possa sem “estranheza” ou “solidão” ressurgir e conviver com os meus sentimentos, sem direcioná-los ou deles outros querer convencer. Que haja em mim firmeza de propósitos e que não me desminta o espelho, que já não reflete olhares perdidos, sorrisos não contidos, não enigmáticos, não Mona Lisa. Apenas o que sou/ estou/ agora.
Em consonância com os versos de Fernando Pessoa, que venha Ferreira Gullar com o seu “Traduzir-se”
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?