QUEM VIVER VERÁ

Não sei se vou estar aqui para presenciar, mas vaticino: ainda serão vistos os professores ganhando altíssimos salários. Não por causa de políticas públicas de valorização do magistério. É que os jovens estão cada vez mais indispostos a seguir essa carreira, não só pelos baixos salários, mas por causa de negócio para poucos que virou a educação. Principalmente os jovens com uma formação mais integral, tão necessária a educandos.

Eu havia publicado o parágrafo acima em 20/07/08 no meu blog, e naquela época achava que o fenômeno iria demorar ainda muito para acontecer, uma vez que não sou premonitor nem vidente, mas possuo uma certa capacidade de análise da realidade educacional que vivencio em nosso país. Pois bem, acaba de sair um levantamento nacional da Fundação Carlos Chagas sobre a perspectiva de formação de novos docentes e o quadro é desanimador. Apenas 2% dos alunos do último ano do Ensino médio manifestaram desejo de seguir a carreira de magistério*. Primeiro por não acreditarem nas políticas públicas voltadas para a educação e depois por causa dos baixos salários e péssimas condições de trabalho oferecidas. É impressionante se a gente for acompanhar nas propagandas dos governos municipais, estaduais e federal o montante astronômico das cifras que eles dizem destinar à educação. São números deveras de impressionar. E por que será que não há avanços significativos em termos de qualidade do ensino? Será que o dinheiro está sendo desviado? Será que está sendo mal aplicado? Será que há investimento apenas nos aspectos físicos das escolas? Esse monte de perguntas já tem respostas na ponta da língua de qualquer um que estiver lendo e tenha noção do que seja o trato da educação pública no Brasil, não preciso espinafrar aqui com as respostas. Acho que isto será o limite: a procura por professores a peso de ouro. Ou então a retirada definitiva do estado da área da educação entregando de vez à iniciativa privada, transformando o que já é um negócio altamente lucrativo e de acesso a poucos, num negócio ainda mais lucrativo e de acesso a menos pessoas ainda, nos fazendo voltar a tempos inimagináveis em termos de analfabetismo e subdesenvolvimento. Acho que vou ver sim, se eu não morrer nos próximos dez anos.

*Fonte: Jornal Hoje em Dia, caderno Minas, pag 1 , 05/07/10

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 08/07/2010
Código do texto: T2365055
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.