'Grande Sertão - com veredas'

Por que, todo o sertanejo tem uma cadela 'vira-lata' com o nome de 'Baleia' ?

João Guimarães Rosa, romanceou o que poderia ser plenamente possível, entre o amor de Riobaldo e Diadorim. Não teve o 'aspirante' à jagunço a 'sensibilidade' do toque para detectar o óbvio ululante, ou seja, de que Diadorim era realmente uma mulher. Soube-o, somente, no momento de sua trágica morte e depois de ferrenho duelo com seu desafeto Hermógenes, na sagaz vingança pela criminosa morte de seu pai. Bastaria-lhe, tão somente, a sutileza de uma leve 'bulinação' mais ousada para uma certificação mais precisa.

A saga do grande escritor mineiro envolve o leitor à uma expectativa que só se revela ao final do romance, envolto nos desencontros das aflições da alma de um apaixonado mas, em dúvida quanto a sexualidade de sua pretendente, posto que até o diabo não correspondeu ao pedido de pacto de Riobaldo. Já sabia o 'senhor das trevas' que Diadorim era, como de fato foi, mulher e, por isso mesmo não pactou com o pobre Riobaldo.

Fosse mais 'atrevido', Riobaldo teria, talvez, alcançado o seu objetivo e o final deste romance tomaria vertentes diferentes e o seu desfecho seria tal qual os contos de fadas com o seu clássico: 'e viveram felizes para sempre...'

No meu sertão baiano, o sujeito que se traja de mulher é considerado um 'baitola'. Sujeito 'discarado', no dizer dos velhos sertanejos, calejados que são da lida rural. A mulher que se veste com os trajes masculinos, essa é da 'pá virada'. E, tome muito cuidado com ela pois, é capaz de 'dar testa' com o mais valente dos homens.

O porque de Diadorim se trajar igual a um homem, o romancista não explica. Talvez, e por ser filho(a) único(a), seu pai o(a) tenha talhado para assumir seu lugar de herança à frente de seu herdado.

Não que Diadorim fosse homossexual. E isto está bem patente no romance "Grande Sertão: Veredas", escrito que foi nos idos do ano de

1956, portanto, época em que ainda existia alguns tabus e velada censura familiar, fato que obrigaria o autor esconder tal comportamento.

Hoje e, em pleno século XXI, a tais veredas sertanejas já apresentam variantes e vertentes com pessoas que escolhem as suas opções sexuais. São gays, lésbicas, transexuais, bissexuais e simpatizantes.

Eles ainda são uma pequena minoria neste circuito social mas, com o evento das paradas gays - já ingressas em muitas cidades brasileiras -

a frequência tende a sofrer expressivo aumento de espectadores e ativos participantes - mesmo que 'passivos' sejam. Afinal de contas, se o Rick Martim 'escancarou-se' de seu armário, por que então o tabaréu não pode se abaitolar?

Quanto à cadela 'Baleia', ela nada tem a ver com esta crônica. Mesmo porque ela está inserida em outro romance, 'Vidas Sêcas', de Graciliano Ramos, que também tece um sertão cheio de dores mas, sem nenhuma 'boiolagem'. E essa já é outra história.