Por que escrevo
Além das obviedades da escrita, existem também os motivos pessoais. Não, não escrevo por profissão, mesmo sendo uma necessidade do meu trabalho. Tampouco escrevo por obrigação, apesar da responsabilidade me coagir a redigir.
Escrevo para lembrar a mim mesmo que superei a vergonha e o medo do julgamento alheio, como tanto sofria antigamente. Mas este é mais o motivo porque “publico” do que a razão porque “escrevo”.
Escrevo porque quando eu era criança, minha mãe me ensinou a importância de ler. Eu era obediente e acreditava fielmente em tudo que ela dizia. Isso foi até descobrir que, se algumas vezes ela dizia coisas diferentes da realidade, é porque havia sim um motivo nobre e educativo.
Naquela época, eu lia um livro a cada dez dias. Ao entregar um volume na biblioteca, já escolhia outro. Os campos da carteirinha (que naquela época era escrita manualmente) se esgotavam rapidinho.
Já fui editor de periódicos amadores – na escola, quando cursava os últimos anos do Ensino Fundamental, e na ONG budista, durante longos e ininterruptos seis anos.
A verdade é que não consigo guardar só para mim muitas coisas. Tenho uma incontida necessidade de compartilhar, externar, contagiar o mundo com as minhas belas descobertas. Talvez seja por causa do meu segundo nome – Yochihiro –, que em japonês, significa “expandir coisas boas”.
Não sou bom em escrever sob encomenda. A necessidade gera pressão e algema a inspiração. O bom mesmo é escrever livre, leve e solto, sem prazos, temas, formas ou regras. Deixar o sentimento voar solto.
E os textos se agitam dentro de mim tal como os passarinhos engaiolados lutam com toda força para escaparem. Quando soltas, as palavras voam longe. São capazes de levar o bem onde não podemos estar. São portadoras dos sentimentos que se agitaram num coração que sente o desejo de proporcionar a outros a mesma emoção.
(Catalão, 22/06/2010)