Meu dia de Veríssimo

A internet e seus males. É incoerente da parte de um escrevinhador criticar a rede mundial, e ao mesmo tempo expor nela seus trabalhos para quem quiser ver. O que não fazemos por um pouco de reconhecimento! Com ou sem talento, a educação e erudição daqueles que participam deste festim cultural literário nos fazem pensar que somos verdadeiros mestres na arte da escrita. Cronistas do amanhã. Elogios brotam como feijão e crescem como milho. Meu amanhã foi ontem, e nada lisonjeiro. Só para criticar um pouco mais a web, tudo tinha de começar com um famigerado e-mail. Abri-o.

O conteúdo na mensagem, que obviamente veio registrando um milhão de encaminhamentos simultâneos, era um texto. Uma crônica. No título e no rodapé, a assinatura me instigava a ler. "Crônica Luis Fernando Veríssimo". Como não atentar e sentir prazer ao ler as linhas deste gênio? Fui, ansioso por sorver as palavras deste mestre.

O hábito de se escrever, seja bem ou mau, nos tira um pouco do ar. Nos turva um pouco os sentidos para o resto. Lia aquele texto, e o achava bom. Mas estranhamente familiar. Uma simples passagem me fez entender tudo. Eram minhas aquelas palavras! Mas como foram parar na internet como sendo de outra pessoa? Como pôde ser assim distribuída sem me ser dado o devido crédito? Absurdo que só a modernidade faz por um arremedo de homem.

Pensando bem, depois, me senti meio orgulhoso. Se colocaram um texto de minha autoria como sendo de Luis Fernando Veríssimo, só podia ser bom. Excelente, talvez. O que fiz? Engoli todo o meu orgulho e reencaminhei aos amigos, mas com uma ressalva. Como quem não quer nada, disse que se tratava de um trabalho novo do Veríssimo, e queria saber a opinião de cada um sobre aquele texto. Hora de medir, sem medir, minha popularidade, baby!

Antes nem tivesse bisbilhotado o maldito e-mail! As respostas chegaram. Céleres. E de nada adiantou. Engoli, novamente, meu orgulho. Dessa feita com uma colherada de farinha. Desceu seco e rasgando. De cada 10 pessoas, oito criticavam, as outras duas não respondiam. Em suma, alegavam que o estilo dele estava caindo muito, que já não demonstrava o mesmo vigor de outrora. Alguns chegaram a dizê-lo senil.

Me senti quase arrasado. Sem coragem de dizer que o verdadeiro autor daquele "lixo" era eu mesmo. Em minhas preces, pedi perdão ao Veríssimo por manchar a reputação dele com alguns milhares de pessoas. Claro, pois se repassei para cem, no mínimo mil devem tê-lo recebido depois.

Se fosse eu um indivíduo dotado de sentimentos, choraria litros. Espernearia com as perninhas pro ar e daria mil e quinhentos chiliques por qualquer coisa. Ao invés disso, preferi comprar uma marta rocha na padaria e sair mascando pela rua afora. Sem receber sequer um olhar dos transeuntes. Aposto que o Veríssimo não pode curtir estes momentos.

Como é bom o anonimato!