O  ZÍPER


          Fecho ecler no Brasil, fecho éclair em Portugal, eis este amigo da praticidade que nos acompanha há décadas e sem o qual não conseguimos imaginar maneiras de abrir ou fechar malas, bolsas, pochetes, botas, enfim, ele com sua presença discreta geralmente escondido sob a peça a qual serve, é o nosso maior aliado, salvo quando emperra, trava bem no meio da trajetória, aí pode ser o maior transtorno e até criar uma situação constrangedora.  Um desses acidentes pode se transformar em uma calamidade quando se trata de fechar a mala muito cheia estando em cima da hora de embarcar, por exemplo.  E é certo que muitas mulheres já sentiram o incômodo de travar aqueles delicados dentinhos direto na pele, ou pelo menos na roupa de baixo e aí é mesmo um deus nos acuda. Seu som bem característico de metal rasgando metal, certamente está na memória das pessoas , o  "zip" a cuja sonoridade associam-se variadas lembranças, pode ser um dia de festa e a sensação boa do vestido assentado ao corpo perfeitamente, ou o contrário, já no fim de festa, abrindo-o devagar,  só querendo ficar livre e dormir longe da sua rígida assessoria.  E nos jins, especialmente as calças, um companheiro onipresente e com o qual brigam as mulheres que não querem calças grandes de jeito nenhum. Quem já não teve que deitar na cama pra bem de o dito artefato cumprir a sua obrigação e até mais do que ela, nestes casos de insanidade a que grande número de mulheres já se submeteu para não aceitar o tamanho do próprio corpo.
              O "fecho" das avós já tem idade pra ser elevado à categoria de peça com status de artigo das nossas mais arraigadas necessidades e certamente ainda vai assim sobreviver por muito tempo. Surgiu curiosamente com a função de substituir o cadarço dos sapatos , no final do século dezenove. Mas sua consagração se deu nos anos quarenta destaque para  a confeção de saias justas às  quais ele se tornou um  componente indispensável, bem como para todas as roupas que deviam assentar perfeitamente ao corpo. 
             O zíper é um divisor de águas da sensualidade. Ele já transcende o seu significado de mero instrumento de praticidade nas roupas femininas e há muito tempo ganhou status de protagonista de momentos culminantes em cenas de amor, na vida e nos  cinemas, superando os velhos botões, malgrado esses ofereçam uma imagem de maior inocência e delicadeza.  Falar zíper é como desencadear um universo de trajes, lembranças de filmes   aonde as divas com seus vestidos justos de cetim vermelho e batons não menos rubros, faziam o delírio das platéias para as quais o beijo apaixonado e a mão no zíper provocavam suspiros e êxtases instantâneos naqueles que nem sonhavam com o realismo do sexo explícito e da crueza das imagens de nossos dias.
              E como tudo um dia termina,  aí estão aqueles sacos aonde são guardados os mortos recolhidos em situações de acidente ou crime, com seu indispensável e sinistro zipão, fechando diante de olhos muitas vezes estarrecidos, o corpo que agora já não tem serventia e que de alguma forma, mesmo que em vida nunca tenha sido dono de um chão pra morar, agora terá que ser recebido em algum local, nem que seja num cemitério clandestino,ou nem isso.  Fecho um tanto macabro este,  melhor agora  zipar a matéria e mandar pras máquinas...Antes que o zíper emperre !
tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 06/07/2010
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