O julgamento final - Crônicas curtas -

Silveira estava desenganado pelos médicos. Doença rara. No máximo 3 meses de vida. Todos na família estavam cientes. Com o passar do tempo, Silveira já estava acostumado com a idéia. Estava refletindo muito sobre o assunto. Pensava na vida, no que perdeu, no que ganhou, amores, desamores etc.

Sentiu uma tremenda vontade de viver sem limites, afinal, estava com os dias contados mesmo. Resolveu pegar toda sua economia. Iria empregar em viagens e compras das mais diversas. Dvd, televisão de plasma, sofá de couro, vídeo game, carro importado, moto, mesmo que dona Alzira fosse contra moto.

- Isso é coisa do bicho, causa muito acidente, pode morrer num bicho desses.

Silveira dava risadas.

Passou a viver nas noitadas, só aparecia lá pelas 4 da madrugada, isso quando aparecia. Ninguém falava nada, afinal estava vivendo novamente e com mais intensidade. Dona Alzira disse que mudou da água pro vinho, muito mais pro vinho é lógico.

Chegou o dia "D", e nada aconteceu. O tempo foi passando e nada. Silveira estava ali, firme como uma rocha. Alguns afirmavam ser um milagre, mas justo ele que não era nada religioso. Mas algo aconteceu, Silveira perdeu totalmente o senso crítico das coisas, acreditava ser imortal e lá estava ele de bermuda, camisa florida, óculos escuros e segurando uma bíblia gritando:

- Que venha o julgamento final, que venhaaaa!!