Encerrando Ciclos
A despeito das amarras e estacas que nos imputamos, tentando sedimentar os nossos passos, a vida é constante fluir e movimento. É perene ir em frente, é inevitável seguir, mesmo quando não conseguimos perceber os ciclos que se cumprem, sepultando a paisagem que insistimos em emoldurar o nosso olhar.
Muitas vezes, sequer compreendemos e aceitamos que muitas portas atrás de nós, já se fecharam. E mesmo sabendo, que vivíamos em escuridão, na maior parte do tempo em que nosso olhar habitou estes cenários, mantemos o nosso coração estacionado no retrovisor deste tempo.
Muitos de nós findamos por cultuar dores de estimação, frutos de histórias que não se completaram ou de momentos, que julgamos, não vivenciados em sua plenitude. Rendemo-nos ao pensamento que nos põe o passado em vigília, reavivando gestos e instantes, onde a lua e as estrelas contemplaram suspiros. Abrigamos o nosso olhar no álbum das recordações, revendo fotografias que apenas têm no presente cores desbotadas ou em preto em branco. Não nos é fácil assimilar, quando uma etapa de nossas vidas chega ao fim. E isso é tão mais verdadeiro, quando se trata de relações afetivas.
Mais fácil seria, se o nosso coração também falasse o mesmo idioma, quando um relacionamento chegasse ao fim. Mas, na maioria das vezes, há descompasso em uma história de amor, desafinando o que antes já foi harmonia. O amor não se consume e nem se consome por igual entre as pessoas.
É dolorido assistir ao cair do pano, ao apagar das luzes, ao sair da platéia e nos mirarmos no camarim, entregues tão somente ao nosso olhar e ao silêncio das cenas que por tanto tempo pareceram ser o nosso melhor papel.
O que nos cabe no cerrar das cortinas, é deixarmos no passado, o que assim se denomina, ainda que nos instigue, o apelo da dor, a permanecermos à espera de mais um capítulo de um livro que já não possui páginas a serem escritas.
E como já mencionei anteriormente, viver será sempre mais que existir. E a qualquer instante é possível dizermos novamente “sim” à vida. Esta, que nos aguarda com páginas que somente nós podemos escrever.
Fernanda Guimarães