Enfermagem
A Enfermagem como realização pessoal: do sonho à vivência.
Roger Flores Ceccon
O que nos proporcionariam de maior prazer e realização pessoal outras profissões se não um abraço afetivo, um sorriso amigável ou uma palavra de carinho? Algo nos tornaria mais humano, mais célebre, mais gente, do que vivenciar, diária e instintivamente, um emaranhado de sentimentos? Pois bem, proponho-me aqui arriscar, sob pena de cometer ato errôneo, em dizer que não, que dentre tantas e todas nenhuma se equipara à nobre e pura enfermagem, esta sim, muito mais que profissão, uma arte.
Devo confessar que o desejo de ser enfermeiro é oriundo de uma forte genética, pura hereditariedade, permanentemente no sangue, legado de uma legítima enfermeira, exemplar, equânime, ímpar, neste caso minha mãe. Eu, pródigo de uma conhecedora dos tramites fundamentais que norteiam a função, dona de uma admirável ética, uma liderança imponente, ostentadora de uma capacidade de cuidar a todos que dela necessitam e que a rodeiam, enfim, uma referência. Pois foi por esta mulher a quem me inspirei. Deve ter se dado toda esta transferência de habilidades mínimas ainda na concepção, e de mãe para filho, aprimorado no decorrer dos dias, vivenciando instintivamente a enfermagem de uma maneira ampla, linear, absoluta. Então apaixonei-me. E de uma paixão logo percebi que ostentava condições de concretizar um sonho utópico, transformar em realidade e inspiração o que era apenas uma mera e tão nobre admiração. E assim se fez. Engajei-me de unhas e dentes, procurei ir ao encontro do que mais me satisfazia, numa ânsia de mudar conceitos, contextos e realidades. Percebi que minha vida tinha um caminho, um destino.
Descobri que desbravaria as insólitas e transformativas práticas da saúde pública, que meu olhar seria empático, meu semblante refletiria o aspecto mais próximo ao real do meu semelhante, tudo isso gerando forças infinitas para decifrar os códigos do processo de cuidar.
Dentro de mim também despertava uma necessidade educacional da Enfermagem, precisava de alguma forma transpor a pessoas o que adquiria. Não mergulhei ao egoísmo. Logo vi que a partir do que ensinava também aprendia, era uma retribuição, uma troca, num processo igualitário de conhecimento.
Desde o despertar cedo em manhãs frias a noites estreladas de sono profundo meu inconsciente trabalha incontroladamente sob a ótica da enfermagem, todos os dias, combinando com práticas elucidativas e necessárias.
Escolho a Enfermagem todos os dias, tenho ela como minha, elenco como primordial, muitas vezes unânime, de forma sedenta e patriarca. Cuido-a como um filho. Motivo-me em cada pequeno gesto, em cada vitória, pois minha batalha é no campo da vida e é só ela quem vai me ensinar. Nos fracassos, nas perdas e desamores aprendo, como todo bom aprendiz, como um mero ser livre de desacertos. Então todos os dias me refaço, nasço de novo, admiro meus semelhantes, sinto novamente vontade de ser enfermeiro, como no início. Vou ser um eterno iniciante. Creio, com toda certeza, que desfrutarei desta dádiva até os últimos instantes desta vida, para daí sim, partir, de uma forma viva, para ser de novo enfermeiro e cuidar em outras vidas de pessoas que sei que vão precisar de mim.