O Umbral dos 50

No meu aniversário estava de folga dos meus afazeres diários.

Refletia....

Na verdade tudo que vivemos é uma medida de tempo.

Nossa própria vida é uma parcela de tempo.

Vivemos instantes felizes que passam velozmente.

Outras vezes em alguns momentos passamos por sofrimentos que nos parecem uma eternidade.

A infância, a adolescência a maturidade, a velhice são medidas de tempo.

Completando agora meus 57 anos, resolvi caminhar a esmo pelas ruas movimentadas da grande metrópole.

Minha mente viajou no passado, lembrei-me quando completava 47 anos, ou seja, já se passaram uma década.

Estávamos no ano 2000 com toda a sua incógnita, havia as previsões catastróficas de fim de mundo.

Como hoje, aquele dia do passado estava frio, um colega de trabalho por nome Erasto, veio me dar os parabéns pelo meu aniversário.

Aproveitando a oportunidade iniciei uma conversa.

Sabendo da sua espiritualidade incomum, perguntei:

_ Erasto, o que você acha dessas previsões negativas para o fim do nosso século? Estas questões de final dos tempos? Bug do milênio, alinhamento do planeta na sua rotação? Degelo dos pólos, efeito estufa? Invasão de extraterrestres e etc...? –

Ele sorriu tranqüilo e respondeu:

_ Tudo isso vem da imaginação fértil do povo, alimentadas por pseudo-s sábios, sempre nestas datas de viradas de séculos ou milênios, surgem estes boatos e previsões, historiadores contam que no ano mil, também esperavam todo tipo de fim de mundo.

Usando a lógica sabemos que a vida vai continuar com seu curso normal, as convulsões do planeta acontecem, de forma natural, aquilo que consideramos como catástrofes, são acontecimentos que não sabemos entender.

Claro que não é preciso ser um sábio ou grande vidente para prever que logo grandes acontecimentos abalarão as nossas vidas, sabemos das leis de ação e reação, causa e efeito, a natureza é sábia.

Chegará um momento que ela dará um basta na forma como a nossa humanidade a está destruindo, no final a natureza sempre vence. –

Fiquei ouvindo com grande admiração as considerações daquele homem de cultura brilhante.

Falava de compreensões das coisas da vida e do planeta, de forma lúcida e otimista em relação ao futuro.

Fiquei um pouco indignado e confuso quando ele me disse que muitas coisas que falava fugiam da minha compreensão, com certeza entenderia depois dos 50.

Questionei com certa irritação: _ Existem ensinamentos que só poderei saber depois dos 50 anos? O Sr está dizendo isso porque já passou dos 70 anos.?...

Sem se importar com minha irritação, com voz amena e agradável me explicou:

_ Sim existem entendimentos, que muitas pessoas só alcançam quando ultrapassa este umbral, outras pessoas só entendem aos sessenta outras aos setenta, e outras que jamais conseguem entender.

Há também jovens saídos da adolescência que entendem, e adultos que na maturidade compreendem. O que é a velhice. –

Não consegui segurar o riso e falei: _ O Senhor está falando da velhice... Acho que só vou saber quando ficar idoso... -

Ele sorriu também e falou:

_ A velhice é o corolário de uma vida, não é preciso chegar lá para entender.

Temos que continuar com a alegria, os sonhos, as esperanças, disposições da infância adolescência e maturidade.

O idoso representa o resultado do acumulo de todo aprendizado, sentimentos, emoções, e realizações de uma vida.

Chegar à velhice feliz e realizada é o resultado de quem sabe viver.

È a autentica felicidade de quem entendeu que o importante...

È o Ser... E não o Ter...

Ficar velho, com mau humor, irritadiço, neurastênico, infeliz e desgostoso. Significa que teremos que retornar para repetir o aprendizado. -

Fiquei sem saber o que dizer, antes que falasse qualquer coisa, outro colega de trabalho veio nos interromper para me dar os parabéns pelo meu aniversário.

Voltei ao dia de hoje, a emoção tomou conta de mim.

Tenho informações que o Erasto já está com Deus.

Pedi a Providência Divina o abençoar onde estiver...

Pensei: _ Se me fosse possível falar hoje com aquele homem iluminado

Diria: _ Obrigado pelos ensinamentos...

Começo a entender agora o que você me disse, há dez anos.