Luiza

LUIZA

(do livro “... aos 40!” – editado em 2007 - de Maria da Graça Zanini, Sílvia Bier, Sônia Bier e Rosalva Rocha)

Verão. Tarde com temperatura agradável.

No trabalho, Luiza parou com tudo e tentou atualizar-se com algumas notícias, de jornal em punho.

Surpreendeu-se com uma manchete: “Astronauta ataca rival e é presa”. Meu Deus! Como pode? A história era por demais escabrosa, com contornos da necessidade de uma investigação profunda.

Pensou na palavra ciúme, tão ampla, tão bem apresentada em quase todos os aspectos do nosso dia-a-dia, seja de forma aberta ou velada.

Luiza, naquele momento, pensou que estamos acostumados a olhar a superfície das coisas, e que o que tinha acontecido não foi movido somente por ciúme. Algo maior estava por trás.

Há tempos ela leu que esse sentimento, embora carregue dor, é algo bom e necessário para a alma. E era, para ela, sem dúvida alguma. Era testemunho de afeição e estima. No fundo amava sentir ciúme de seus sobrinhos, de seus livros, de alguns de seus objetos pessoais, do seu namorado, mesmo que de forma velada. Sentia uma ligação com o amor. Não conseguia sentir ciúme de algo ou alguém que não lhe dissesse coisa alguma.

Voltou ao tempo e sorriu.

Lembrou-se de seu primeiro namorado, um menino bonito, atraente, mas infiel. Ela o amava, mas sabia que os olhos dele não eram só seus. Nunca procurou por nada ... mas, de repente, deparou-se com ele e a sua outra namorada, em um Baile de Carnaval. Pasmem: mascarados!

Luiza, com os olhos afoitos, não levou muito tempo para reconhecer a dupla.

Quanto foi ao toilette, deparou-se com os dois e, no meio de uma grande escada, desferiu um tapa na cada do mascarado. Sempre morreu de ciúmes dele e aquele fato a colocou no chão.

Depois disso, passou horas chorando. Como isso pode acontecer? Como ela, uma pessoa doce, pode fazer uma coisa dessas?

O tempo passou e o fato virou piada.

Luiza percebeu que, além do ciúme, naquele momento estava com raiva, muita raiva, e foi isso que motivou o ato em si.

Enquanto pensava, os e-mails recebidos iam se aglomerando na caixa de entrada, mas ela decidiu dar-se um tempo para pensar sobre o assunto. Precisava entender melhor a diferença, sabe-se lá, para muitos, “a sutil diferença” entre o ciúme, a raiva e a inveja, esta última, na sua opinião, o pior dos sentimentos.

Entrou ligeiramente num site de pesquisa, imprimiu as considerações de um psicanalista famoso e guardou-as na bolsa. Levaria para casa para ler com calma.

De repente o telefone toca. Era seu namorado, Roberto.

- Oi amor! Tudo bem contigo? Eu quero te falar que hoje terei um churrasco com amigos. Tudo bem?

Ela, quase que o interrompendo, respondeu:

- Claro, vá e curta muito!

Esclareceu para si, naquele momento, que era algo velado, mas por amor, e que era bom, nada triste, nada catastrófico, nada desmerecedor.

Rosalva
Enviado por Rosalva em 05/07/2010
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