A PRIMEIRA VEZ, A ÚNICA E A ÚLTIMA!! (UM CASO DE BROCHURA)
O DIA EM QUE BROCHEI LITERALMENTE!
É um belo domingo de verão deste ano de 1981! Saio de casa na zona sul de São Paulo e, rumo-me para a zona central, mas precisamente na Alameda Notman, onde moram os meus amigos de infância e colégio, o Lucio, o Gilmar e o Carlinhos. É um costume meu sempre ir visitá-los aos domingos para fazermos programas diversos como: ir para os cinemas, para a estação São Bento do Metrô a fim de assistir as apresentações de bandas emergentes; às vezes para irmos aos estádios de futebol em dia de clássicos ou mesmo assistir pela televisão no próprio apartamento e ou jogar futebol em um depósito de pneus onde o Carlinhos trabalha e ou ver filmes nos cinemas da Rua Aurora.
Justo neste domingo para o qual já havíamos pré - programado uma ida para a Estação São Bento do Metrô, o Carlinhos informa – me que, a programação tinha sido mudada, pois, algumas baianas, que foram convidadas para uma festinha no sábado, tinha dado o cano e, por isso, todos nós iremos para o brega na Avenida Rio Branco. Você virá com a gente? – Pergunta o Carlinhos. - Vou é claro, respondo - Afinal de contas, penso neste momento, não posso demonstrar que sou medroso para este tipo de programa em São Paulo, já que os programas do Gil Gomes, sempre falam das tragédias que diariamente acontecem nas bocas do lixo.
Estamos neste momento seguindo para a boca do lixo, e antes de entrarmos na fila longa, à espera da vez de entrar no prédio, um dos colegas sugere: Vamos tomar um rabo de galo primeiro para poder aumentar o fogo! – Pessoal, falou o Carlinhos, depois teremos de nos encontrar neste boteco, ok? Ok!.
Agora estou eu na fila de espera com um montão de homens de todos os tipos, de todas as procedências, meu Deus, o que eu estou fazendo aqui neste lugar de perigos dos quais não sei de onde eles poderão chegar! Mas chega a minha vez! Aqui não temos o direito de escolher com quem subir. É na vez. Da fila; e, na minha, chega uma baixinha, que até tem a cara de conterraninha da Bahia, que me solicita para segui-la, até o elevador eu faço. Entro no elevador com a mesma, juntamente com outros casais anônimos, e, na parada do elevador no sétimo andar, a dama do sexo desce primeiro e eu a sigo de perto.
O local está cheio de biombos com cortinas de pano, fazendo o papel de portas. Na verdade isso parece mais um acampamento de sem terras, só que adaptados em uma sala de prédio comercial. Não vejo onde a tal moça entrou primeiro e acabo me perdendo. Resolvo então entrar no primeiro biombo onde há uma cortina aberta e um cara, que está no seu deleite grita batendo com a mão na escrivaninha ou uma mesinha; sei lá. .- Porra meu!! – Desculpa cara, errei de porta!.Neste momento o meu coração dispara! Parece querer sair pela minha boca ou até mesmo pelo peito. Acho que vi uma peixeira na mesinha! Não, deve se um revólver!Não,deve ser uma metralhadora!Com certeza era uma arma, ou não! O medo não me pode dominar neste momento; mas o pavor passa a ser o meu companheiro constante. Ouço uma voz que me chama. - Moço é aqui! olho; e é a dama. Entro no biombo onde se encontra a mesma que já estava despida do umbigo para baixo, tiro as calças, mas o meu companheiro de tantos anos de vida resolve justo agora, abandonar-me nesta hora tão cruciante na minha vida. Quanto mais eu tento reanimá-lo mais ele se acanha e se encolhe mais e mais; quer se esconder a qualquer custo. Parece ter mais medo,digo,pavor do que eu. Só o meu coração está excitado; o tum tum dele é semelhante à batida dos surdos nas escolas de samba. Não sei se de vontade de estar no meu lugar ou louco para fugir dali como eu. A dama fala para mim que ainda tenho dez minutos para continuar tentando reanimar, ou melhor, animar o meu parceiro; continuo, mas tudo é em vão. De repente ela completa- Sua hora acabou!(dez minutos transformados em uma hora! Para mim uma eternidade!) Agora é só pagar e fique tranqüilo que não falarei para ninguém do seu infortúnio! Até parece que aquelas centenas de anônimos se preocupariam comigo! E com as pernas trêmulas, não de prazer, mas, de pavor mesmo, visto as calças, pago os dez cruzeiros (é como se pagasse uma almoço em um restaurante sem comer nada e sair com fome) e saio o mais rápido possível daquele antro de perdição e medo. Juro por Deus que esta é a primeira e última vez que venho a um lugar desses aqui! Os casos narrados pelo Gil Gomes a respeito de lugares como esse sempre me deixavam receoso de freqüentá-los. Ao chegar ao boteco os meus amigos já estão me esperando, e, enquanto* concerto o meu ser refazendo-me do grande susto que passei, eu lhes relato o ocorrido.
- É assim mesmo, respondem. Com a gente já aconteceu e é por isso que tomamos o tal de rabo de galo para não falhar e ter coragem.
- No meu caso nem um rabo de elefante resolveria! Morro de medo de freqüentar lugares como esse, e não me chamem mais para um tipo de programa semelhante porque não mais participarei! Se eu vier, com certeza brocharei novamente, por isto é a primeira e última vez que venho à boca de lixo, freqüentar os bregas aqui, na Ipiranga, na São João que são tão perigosos.! .Assistir aos filmes pornográficos e ver a mulherada, cada uma mais feia que a outra, tirar as roupas nos palcos dos cinemas da Rua Aurora, tudo bem no mais, não!
(*) Concerto – É no sentido de harmonia.