Trova com o coração
Descobri o amor por volta de 1999, e foi aí também que descobri que em relatos, poemas, poesia, poderia eu, conversar, desabafar, ou como diziam os dialetos, trocar idéias comigo mesmo.
Mas pra minha surpresa, um dia, não me lembro exatamente quando, estava eu curtindo minhas desilusões, minhas loucuras, minha imaginação, quando ouvi uma voz, dizer alto e em bom tom,
(-Por quê?), achei que fosse uma alucinação, mas as duas palavras eram ditas tão repetidamente, que iniciei uma procura insana, por baixo dos moveis, entre meio os livros, pela janela de meu quarto, local onde passava maior parte de minha adolescência quando me via envolvido em um novo amor, mas nada, só consegui localizar de onde vinha esta voz tão eloqüente, quando me deitei na cama e coloquei a mão sobre o peito. Sim, era dali que vinha esta voz firme e tão preocupada comigo, era meu coração, que questionava sobre meus tristes pensamentos e meus tão variáveis sentimentos, não sei dizer quanto tempo passei conversando com este meu "novo velho amigo", mas narro a seguir, parte da conversa que transcrevi para que eu me lembrasse eternamente deste episodio inusitado, e surpreendente. E transcreverei o prólogo e o epilogo desta conversa me identificando como "poeta", maneira na qual meu coração me intitulava.
Coração:
-Oh! Meu nobre poeta,
Porque choras sem consolo?
Logo tu que vive, em alegrias
E fala de amor feito um tolo!
Poeta:
-meu humilde coração, belo
Sem alegrias não tem jeito
Sabes bem que sou sincero
Pois tu moras em meu peito
Coração:
-sim, mas às vezes me aperto
Em meio a tanto sentimento
Faço de cama o amor
E de cobertor o sofrimento
Poeta:
-Oh! Grande coração
Este também é meu segmento
Sempre que abraço o amor
Vem me beijar o sofrimento
Coração:
-Não fujas do assunto poeta!
Porque choras tanto?
De onde vem tanta agonia?
Para que se afogar neste pranto?
Poeta:
-Você conhece minha vida
Sabe todos os meus passos
Conhece bem minhas feridas
Minha rotina, meus embaraços
Coração:
-Eu só pulso o sangue
Para mantê-lo vivo
Por favor, não se zangue
Pois em ti faço abrigo
Poeta:
-Você é meu único amigo
E vou te contar nossa dor
Pois é um imenso perigo
Dar asas a um ingrato amor
Coração:
-Conheço bem o amor
E ao mesmo passo desconheço
Ele sempre me causa fervor
Quando atravessa seu peito
Poeta:
-Começa assim minha historia
De amor, desejo e ilusão
Contarei-lhe a trajetória
Para que entendas coração
Cultivei junto a ti em meu peito
Um sublime amor puro
Sem erros, ou defeitos
Em meio a sentimentos seguros
Dei asas a este amor
E o alimentei com dedicação
Ele não me respeitou
Pagou-me com traição
Omitiu toda verdade
Brincou com minha alma
Não sei se por maldade
Mas retirou a minha calma
Mesmo assim prossegui firme
Apaixonado pelo amor ingrato
Não sei se cometi crime
Me assassinei, me tornei inato
E vejo que você “meu nobre coração”
Tem as marcas deste meu desvairo
Eu não tenho nenhuma noção
Mas sei que pago um preço caro
Sem querer eu o firo
Meu doce e amável coração
Desculpe-me, mas eu prefiro
De companhia a solidão
Coração:
-Comovente o seu relato
Agora entendo esta grande dor
Não seja você ingrato
Morreremos juntos por este amor
E mesmo que desista de sua vida
Não coloque um ponto final assim
Sua historia é mesmo sofrida
Mas peço que não desista de mim
Ajudar-lhe-ei nesta sua jornada
Retirando os espinhos e replantando flor
Nossa vida será unificada
Morreremos juntos por um único amor.