O LAMENTO SILENCIOSO DE UMA ÁRVORE

O LAMENTO SILENCIOSO DE UMA ÁRVORE

Um a um os caminhões chegaram, seguidos de enormes tratores que mais pareciam monstros sobres esteiras rolantes, vorazmente famintos.

Homens, munidos de grandes máquinas serrilhadas, desceram dos caminhões. Perfilados, aguardaram o sinal do seu comandante para iniciarem o combate.

Sabíamos o porquê eles estavam ali. Sabíamos que seria um combate injusto. Sabíamos, também, que seríamos derrotadas porque não tínhamos como nos defender.

Éramos muitas, porém mortalmente indefesas diante da voracidade destruidora dos homens.

As máquinas foram ligadas e o barulho ensurdecedor tomou conta daquele lugar que, até então, era silencioso e aconchegante: um santuário onde as aves faziam seus ninhos e os animais procriavam, dando mais vida àquele lugar.

As lâminas serrilhadas sem piedade cortaram, dilaceraram, romperam nossos nódulos e entranhas e, uma a uma tombamos, fazendo o chão estremecer à nossa volta. Nossos ramos se quebraram e nossas folhas se soltaram dos galhos não aceitando a fatal derrota. Caíamos como Golias diante de tanto Davis.

No chão, enorme facões nos desnudaram das cascas e galhos, deixando-nos à mostra como ovelhas tosquiadas.

Enormes correntes foram atreladas em nossas extremidades e fomos arrastadas, fazendo com que nossos troncos inanimados ficassem ainda mais chagados.

Nossos galhos, outrora fortes e viçosos, jaziam no chão. Pareciam membros decepados durante uma guerra sanguinária.

Os mesmos caminhões que trouxeram os homens nos transportaram, uma em cima da outra, para uma viagem rumo ao desconhecido.

O restinho de seiva que ainda corria em nossos veios, nos dera alguns momentos a mais de vida, para que presenciássemos o rastro de destruição deixado por aqueles homens.

O poder destrutivo e a ganância do homem ceifaram nossas vidas e transformaram o nosso santuário ecológico num lugar triste e sem vida.

DONATO/ 2008

Donato Capuzzi
Enviado por Donato Capuzzi em 05/07/2010
Código do texto: T2359183