OVERDOSE DE AMOR
_ Oi, meu amor!
_ Oi, minha vida!
Assim eles começaram a conversa do dia. Falaram de tudo. De si, do mundo, da vida, do sol, da chuva, de céu, de estrela, de música, de alegria, de presente, de passado, de futuro, de emoção, de lembranças, de beijo, de abraço, de encontro... De AMOR, não? Ué, de amor sim! Porque toda essa conversa era só pra falar de amor.
Eles ouviram o sol dizer “Bom dia”, mas não ouviram a noite dizer “Boa noite”. E falaram tanto, que o relógio cansou! E eles? Eles não! Porque o universo das palavras de amor é tão infinito que a fonte não se esgota nunca. Há sempre um fio d’água cristalino que brota sem descanso dos corações amantes. É uma mina que se sacia na própria sede e parece nunca ter fim.
E falaram assim por um dia inteirinho! E boa parte da noite! Overdose de amor! Com intervalo de cinco minutos de almoço e dois minutinhos para uma aguinha. Alguém tem mesmo tanto o que falar? Tem! Eles tinham. Porque estavam cansados de falar com paredes. E paredes têm ouvidos, mas não têm respostas. Por isso, tinham tanto pra dizer e ouvir quando se encontraram.
Já foi dito em outra crônica: segundo Nietzsche, só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?". Pois é, os dois não falaram em se casar. Nem de casamento. Falaram de amor. E Machado já disse: “Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento.”. Pra ser feliz no amor, alguém precisa casar? Não necessariamente, certo? Melhor cuidar de dias, noites, anos... trinta anos, quem sabe, conversando com o mesmo prazer do primeiro instante... E eles ainda têm um infinito de coisas sem dizer...