CAÇADOR OU CAÇA?

Outro dia desses um amigo me perguntou o porquê de eu não divulgar poesias no meu blog. Dei uma risada e respondi que não sou poeta, não faço poesia. Gosto de escrever crônicas. Ele retrucou: "Mas os teus textos tem um quê de poesia..." Não tive como tirar-lhe a razão, ainda mais depois de abrir o dicionário e ler que "poeta" define-se por "pessoa de imaginação inspirada ou sonhadora". Logo eu que nunca fui muito íntimo de poesia... Mas isso me fez quebrar um pouco a cabeça e descobrir o quão tênue é a linha que separa esses dois gêneros literários.

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O cronista é um observador nato. O cronista não escreve com as mãos, e sim com os olhos. É uma espécie de Thundercat, tem a visão além do alcance. O cronista, quando olha um pássaro pousado em um galho, não vê apenas um pássaro pousado em um galho. É quase um sensitivo. O cronista é o primeiro a chegar e o último a sair. É um curioso. Diria até que é um egoísta. O cronista precisa ser ouvido, quer falar pro mundo inteiro. É tagarela, não tem restrições. Cronista não é apenas jornalista, mas forma opiniões. Cada cronica é uma fração do seu cérebro, dos seus sentimentos, do seu "eu". Cronista é abusado. O espelho do cronista é a crônica. O portarretrato do cronista é a crônica. O cronista é a sua própria cronica. É um caçador. Cronista não dá satisfação, e usa óculos fundo de garrafa só por precaução. O cronista não gosta e não quer guardar segredos. Conta tudo, tudo, mesmo que implicitamente. O cronista não se dá ao luxo de dormir. Nunca.

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O poeta é quase isso, mas há um diferencial: O poeta precisa sofrer. Sofrer de amor. Poeta precisa de rejeição. Ao contrário do cronista, o poeta é altruísta. O poeta não fala pro mundo, o mundo é que fala pro poeta. O poeta enxerga melhor quando está de olhos fechados. É, sim, sensitivo. É artista. O poeta muitas vezes interpreta. Ri e chora pelos outros. Poeta não se sente amado, e a poesia é sua válvula de escape. Poeta é sonhador, quer sempre amar mais e mais. Não se contenta em amar apenas seu entorno. Pro poeta, sofrer é sinônimo de amar. O poeta sofre por mim e por você. Poeta é caça. Sente-se destroçado pelo amor. Será que o poeta deveria amar menos? Poeta cede passagem. Seu único defeito é amar demais, e por esse amor não ser correspondido na totalidade, o poeta sofre. Poeta busca amor integral justamente por disponibilizar amor integral, mesmo que também implicitamente. Não esquece que chorar é redenção. O poeta não se dá ao luxo de morrer. Nunca.

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De fato, a linha é mais tênue do que imaginava. Descobriu-se cronista ou poeta? Ou os dois?

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Agradeço ao meu amigo até hoje pela pergunta...

Mais no meu blog: lealbrunno.blogspot.com