PORTA DE BANHEIRO

Sempre observei os dizeres das portas e paredes dos banheiros de escolas. Leio os recados deixados e sinto-me incomodada com a quantidade de palavrões. A cada novo escrito, um novo insulto. As portas são mais sujas que os vasos sanitários e o português utilizado retrata o estado da educação de nosso país. Visualizo crianças, adolescentes e futuros adultos doentes, cheios de mágoas e receios. Os desafios e intimidações chegam a dar náuseas .

Ainda bem que há sempre exceções à regra. Nem só de palavras imundas vivem os banheiros das escolas. Há quem crie frases interessantes ou dê bons conselhos aos colegas. Confesso que alguns versos provocaram em mim grandes risadas. Não poderia deixar de destacar os grandes escritores, psicólogos, intelectuais, filósofos, humoristas, poetas e artistas por trás das poucas palavras belas que encontrei. Já vi até jornal pregado na porta de banheiro com o nome bem sugestivo de "O TRONO".

A minha maior vontade é a de comprar um galão de tinta e pincel para apagar todas as porcarias que vejo escritas. Não o fiz, pois por mais que os donos das escolas louvassem o meu ato, os alunos continuariam os mesmos. Seria capaz de deixar a parede limpa por uns tempos, mas não melhoraria em nada a mente e educação dos alunos.

Não quis apagar os palavrões, para não ter que levar ao esquecimento o grito daqueles que tinham algo diferente e necessário a dizer. Preferi escrever uma carta a cada escola pelas quais passei, pedindo que houvesse uma reformulação na maneira de educar. E enquanto os donos, diretores e professores das escolas lêem as cartas e refletem a respeito, permanecem em minha mente os versos, que uma vez vi em uma porta de um banheiro:

Triste vida

Triste sina

Ser poeta

De latrina.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 10/06/2005
Reeditado em 10/06/2005
Código do texto: T23581