NUDEZ DE UMA ALMA DEPOIS DOS TRINTA

NUDEZ DE UMA ALMA DEPOIS DOS TRINTA

No último dia oito de maio, completei trinta e dois anos de idade. Hoje medito na brevidade da vida. Há bem pouco tempo eu era um adolescente tímido. Hoje sou pastor, chefe de família, pai.. Como pastor sou pai de muitos idosos; são senhores e senhoras que sempre param e ouvem um aconselhamento meu (meu pastor: dizem eles). Olho os jovens, alguns contemporâneos, mas os observo com olhar paterno, as crianças, essas sim, as observo e as identifico com o André, meu filho consangüíneo.

Meu Deus como a vida passa depressa!? Ontem brincava de bola na rua e sujava a ponta do meu avantajado nariz, quando limpava com as mãos as secreções oriundas de uma asma que me perseguia.

Quantas mudanças! Sou pai, (pai do André), que hoje balbucia alguns sons, que eu entendo como pai, papai; acho que seja assim o seu balbuciar: bap...pap. bapbap.

Ah! Ser pai é ser Deus! Ao embalar o meu filho, sinto que sou uma divindade, que cria a vida. Se for descrever a experiência de ser pai, a descrevo nessa perspectiva: de ser um deus. (desculpe os rígidos doutores da Teologia do dogma e sem alma). Sim sou deus. Deus daqui, que zela, que provê, ama, que ensina e corrige. Sim, limitado e sem a eternidade em Si; mas deus. Esse é o meu paradoxo, minhas Krisis, debaixo do sol.

Sim sou esposo! Sou macho, companheiro, amigo; sim sou amante. “Aprendi” o segredo do sexo, do prazer, dos gemidos e sussurros. Descobri que Erasmo tinha razão quando cantou: “... a mulher é um sexo frágil, mas que mentira absurda”. Ela é forte à sua maneira. Usa a meiguice para combater a minha força, usa o carinho para contradizer minhas idéias, usa a docilidade para curar a minha arrogância masculina. Do seu jeito de ser forte, ela é.

Aprender contar os dias visando alcançar a sabedoria é tarefa árdua. Mas é sabido que o faz. Falar sobre os dias passados, das dificuldades pregressas, os momentos bruxos, monstros, os momentos angélicos, os de dores e os de alegria. Há! é da minha conta, contar, não quantitativamente, mas colocar cada um na minha conta. Afinal a responsabilidade de vivê-los fora todo meu. O certo é que preciso aprender alguma coisa dessa conta. Que a cada dia é debitado menos um na conta dos meus dias. “... è preciso saber viver, pois a vida não é feita de ilusão...” é feita de dias contados, de matemática fria e calculada. O salmista diz que todos os meus dias estão contados e determinados.

Sim estão contados aos oitenta, aos setenta, aos cem (não com “s”)! Preciso considerar os já vividos, a fim de viver melhor os contados ainda não vividos.

Pergunto ás vezes: o que vou fazer com os contados ainda não vividos? Preciso observar o meu passado para deter(os)minados que vir, e viver, não nos gerais, mas nos eldorados. Vou caminhar para deter os minados dias, esses minados trazem tristezas e assombros, cada passo com perícia de soldado de guerra. Desarmando as amarras e minas do caminho. Caminhando para o pódio que está no “fim” da caminhada e abraçar os tesouros da existência sob o sol.

Viver é mais do que um samba de uma nota só; preciso urgentemente compor as notas da oitava sinfonia da vida.

CIRLON - O AMIGO QUE SE IMPORTA