A DERROTA DOS VENCEDORES

Prólogo:

"Graças a Deus, a sua honra, dignidade, luz e génio não são números que os heróis conquistadores, que são verdadeiros jogadores, arrisquem na lotaria das batalhas. Muitas vezes a perda de uma batalha é a conquista do progresso. Deslustra-se a glória, mas engrandece-se, alarga-se, torna-se mais ampla a liberdade; emudece o tambor para deixar falar a razão. Jogo é este, pois, em que quem perde ganha." - (Victor Hugo, in 'Os Miseráveis').

O explosivo atleta Felipe Melo, há quem o chame de bomba por ser composto de líquido incolor e oleoso que se obtém misturando ácido nítrico, ácido sulfúrico e glicerina, fez um gol contra, agrediu graciosamente um jogador da Holanda e com isso foi expulso.

Não! Não estou dizendo que esse jovem rapaz é o culpado pelo fiasco de todos. Fazer um gol contra ante a afobação de um campeonato mundial é perfeitamente normal. O estranho foi, numa competição dessa magnitude, ter pisado desnecessariamente em um adversário caído e totalmente indefeso.

Esse desequilíbrio emocional foi uma modesta contribuição que pagou o preço amargo de nosso retorno nas quartas de final. Também achei incomum não termos (Claro que temos) um bom lateral esquerdo para fazer dobradinha com o atleta Maicon que corria célere pela direita.

Digo isso porque é sabido que o jogador Michel Bastos foi o pior lateral esquerdo que já mandamos para uma Copa do Mundo. A nossa Seleção Brasileira de Futebol perdeu para uma seleção mais motivada, equilibrada e capaz de gerenciar positivamente o receio, assombro, dos seus jogadores ao enfrentar o mito decantado sobre a Seleção Canarinho.

Desorientados, talvez embriagados pelo bom desempenho no primeiro tempo do jogo, nossos jogadores davam trombadas e peitadas nos adversários que cresciam a olhos vistos diante dos estabanados meninos (não tanto) do Brasil! Vivemos do mito que se estabeleceu nos ótimos desempenhos dos anos 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.

No dia 2 de julho amanheci com frio! Em silêncio fiz meu café, afaguei meus adoráveis cachorros, reguei minhas plantas, brinquei com os periquitos. Não dei continuidade à leitura de Crime e Castigo (Fiódor M. Dostoiévski) da noite do dia 1º. O prenúncio da derrota bateu em meu peito como uma estaca prateada quando perfura o coração de um vampiro (Phillostoma spectrum).

O jogo começou. Fiquei contente. Todavia, aos dezesseis minutos do segundo tempo desliguei minha TV e me tranquei na biblioteca em cogitações medonhas. Bebi o último gole do vinho argentino (Viognier Santa Julia) que ganhara de uma amiga promotora federal, no dia 15 de junho, quando o Brasil estreou na Copa jogando contra a Coréia do Norte.

Voltamos mais cedo para casa e no trajeto o silêncio dos atletas aspergia um odor sulfídrico e o silêncio era tão sepulcral quanto seus futuros incertos. No furor rompente dos espíritos em agonia era palpável o sofrimento que lhes afligiam as almas em frangalhos.

Somos falsos patriotas quando se trata de competição desportiva. Já é tempo de aceitarmos que NÃO TEMOS a supremacia de absolutamente nada de bom ou digno de orgulho sincero, verdadeiro.

Alguns cronistas, torcedores fanáticos e desrespeitosos com o trabalho sério e alheio querem, a qualquer custo, um culpado pela derrota da Seleção Brasileira. Desejam a cabeça do técnico ou a região glútea dos jogadores para bater com o látego que representa a sanha de suas frustrações enaltecidas pelo despreparo desportivo.

Debalde é a procura. Não temos um culpado! Todos os envolvidos fizeram seus deveres de casa do melhor modo possível. Quem foi violento mostrou seu temperamento tempestuoso. Quem foi indolente extravasou sua apatia. Quem se mostrou teimoso foi por ter na sua gênese a recalcitrância aferventada no revanchismo inconsequente.

Vivenciamos uma situação que ocorreu no ano de 2006 quando a Seleção não demonstrou o futebol esperado e sucumbiu de forma vexatória para a França, fracassando no sonho de obter, com garbo, o hexacampeonato mundial de futebol, em 24 de julho de 2006.

As caras pintadas, o comércio superaquecido, as fantasias ridículas, o choro convulso, falso, tudo se repetirá em 2014? Não sabemos. O futuro não nos é permitido saber.

Os acríticos, os que a tudo dizem amém poderão até se deixar contagiar por essa horda de fanáticos para vangloriar convocados pífios, de brilho fosco, mas EU NÃO FAREI promessas e tampouco prognósticos favoráveis para enaltecer uma possível nova derrota dos antigos e malfadados vencedores em tempos passados.

Não estou indignado nem triste. Não perderei meu sagrado sono. Até comentei com uma amiga, ao telefone, que entendia ser altamente positiva uma festa desse porte. Referia-me aos festejos que se volteiam nos estádios onde se realizam os jogos. Vendem-se de tudo. Os sorrisos e fé rebrilham.

Os chineses, principais fabricantes dessas quinquilharias barulhentas, participam mais ativamente do que quaisquer dos trinta e dois países que se fizeram representar neste Campeonato Mundial de Futebol.

CONCLUSÃO

Querem crucificar o atleta Carlos Caetano Bledorn Verri (Dunga)! Execrado na Copa do Mundo de 1990, campeão mundial em 1994 e vice-campeão em 1998 - as duas últimas como capitão, o gaúcho grosso que não leva desaforo pra casa teve, no meu entendimento, um ótimo desempenho à frente dos destinos de nossa Seleção.

Nós brasileiros é que mantivemos uma enaltecida expectativa nos vencidos campeões desequilibrados, violentos, cansados, alquebrados, apáticos e feridos de outrora.

Ao todo foram 60 jogos com Dunga praguejando, pelo fato de ser turrão, no banco de reservas. Com 42 vitórias, 12 empates e seis derrotas trata-se de um excelente resultado. Isto é fato!

Se conseguissemos o hexacampeonato neste ano de 2010 Dunga seria um herói nacional e recebido com honrarias já no aeroporto. Perdeu ele! Perdemos nós!

Dunga está sendo julgado pela convocação desastrada em maio do ano corrente. A Copa do Mundo precisa ser encarada como uma competição séria entre civilizados e NÃO como um campo de guerra onde atletas tratam seus adversários como se fossem inimigos ferrenhos ou fratricidas.

Precisamos aprender a tirar os melhores ensinamentos dos insucessos (Anos de 2006 e 2010) para podermos valorizar as futuras vitórias. Somos Nações diferentes nos usos e costumes, também nos idiomas, mas isso não significa que devemos nos alegrar com as derrotas dos demais latinos e europeus, mas sim nos confraternizarmos e juntos celebrarmos o sucesso e vitória dos que se houveram melhores em campo. Se assim não fizermos estamos fadados a nos tornarmos sempre ou eternamente imbecis vencedores derrotados.