Usos e Costumes

Duas pessoas conversando numa calçada, uma encostada na parede, outra no carro. Em meio às duas, ao passar, e cortar a conversa, pede-se licença. Bem, pelo menos era assim no tempo de Mestre Marcelino ou em meu tempo de infância.

Não sei o que mudou nesse meio tempo, mas, que mudou, mudou.

Fui muito censurada e criticada por amigos em insistir nessa atitude:

- Você parece boba! Os errados são eles.

- Licença para que?

- Não vê que não estão nem te ouvindo ou vendo?

Hoje continuo na minha insistência e o fato se repete muito porque ando demais à pé pela cidade e não paro de observar. Agora já faço até uma aposta comigo mesma de qual vai ser a reação dos participantes da conversa.

- Pois não.

- Toda.

- Sim!

Isso quando não são jovens. Esses são especiais. Alguns dão um “break” na conversa para saber o que está acontecendo. Outros olham para os lados para ver com quem estou falando. Grupo de adolescentes se olham entre si para interpretar meu código. -“Que língua será essa?”.

Novamente fiz minha brincadeirinha há pouco, e fui surpreendida. Um senhor de um lado encostado numa porta de loja e um morador de rua, sentado na guia da calçada, ao lado de seus pertences entre marmita, cobertor e saco de roupas indefinidas. Passei lentamente pedindo licença e prontamente o morador de rua respondeu:

- Pois não, esteja à vontade, senhora.

Ele não tem um teto, mas recebeu o mesmo que eu provando que para ser educado só é preciso ter tido um berço.

Ana Toledo
Enviado por Ana Toledo em 03/07/2010
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